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JUSTIÇA
Cartazes e banners de advogados estão espalhados pelas ruas; para eles, propaganda é "manifestação democrática"
Candidatos à vaga na OAB sujam cidade
FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL
Mal a cidade começa a esquecer
a sujeira provocada pela disputa
da eleição municipal e as ruas já
estão novamente ocupadas por
propaganda eleitoral. Os concorrentes, desta vez, são dois advogados que tentam ganhar a presidência da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e, contra a poluição visual que vêm patrocinando, nem mesmo a Prefeitura de
São Paulo sabe o que fazer.
A prefeitura, segundo o secretário de Comunicação Social, Antenor Braido, teve de encomendar a
sua assessoria jurídica um parecer
sobre o que pode ser feito para
conter a proliferação da sujeira. E
o problema é que o parecer só estará pronto às vésperas da eleição,
marcada para esta quinta-feira.
"A OAB não está enquadrada
na regulamentação para uso do
espaço público. Não é uma entidade pública, mas é grande e conhecida. Porém, temos de ver o
que é possível fazer, pois o que está havendo é o uso do espaço público para campanha privada."
A confusão é tanta que até mesmo a operação de retirada de faixas, que começou a ser feita na última sexta-feira na Praça João
Mendes, no centro, foi suspensa.
Os dois candidatos, Carlos Miguel Aidar, atual secretário-geral
da entidade e líder da chapa
Avança OAB, e seu adversário,
Roberto Ferreira, que encabeça a
Oposição Unida, têm em comum
a promessa de retirar banners,
outdoors e cartazes no dia seguinte ao da eleição e o modo como
classificam a propaganda de rua:
uma manifestação democrática.
Mas nenhum dos dois consegue
contabilizar com exatidão a sua
parcela de contribuição para a poluição visual. Aidar conta cerca de
60 outdoors e 1.800 banners, todos ganhos de clientes.
"Tenho a sorte de advogar para
empresas de propaganda visual.
Ganhei todo o papel e as faixas em
branco. Mas não uso cartazes colados em postes, pois acho que
deixam uma marca indelével."
O candidato da oposição é pior
nos números. "Tenho 30 mil "santinhos" para distribuir na boca-de-urna. Ganhei 250 faixas de um
colega e alguns banners de outro.
Mas, no interior, nosso pessoal é
responsável pela campanha."
Como tem ocorrido nas eleições
para cargos executivos públicos,
os dois não dispensam as farpas.
"Reconheço que houve de fato
um exagero, mas começou pela
situação, que tem a máquina."
Questionado se estava acusando o candidato Aidar de usar dinheiro da OAB para fazer a campanha, Ferreira recuou e disse que
há "um comentário geral" entre
os advogados nesse sentido.
Já Aidar afirma que seu adversário patrocina poluição visual
também no interior do Estado.
"Se você for a Campinas, ele (Ferreira) tem mais de 5.000 faixas. Eu
não tenho nada no interior."
R$ 69 milhões
Os dois disputam a administração de um orçamento estimado
em R$ 69 milhões para 2001. Para
ganhar a eleição, Aidar diz que recebeu uma contribuição de R$
500 de cada um dos 103 integrantes de sua chapa, o que resulta em
R$ 51.500. Já Ferreira afirma que
cada integrante de sua chapa entrou em média com R$ 2.500, o
que significa R$ 257.500.
E, na batalha do voto, Ferreira
resolveu advogar em favor dos
colegas inadimplentes. Conseguiu obter uma liminar na Justiça
que permitia a eles participar da
votação. No final da tarde de ontem, a OAB conseguiu cassá-la.
Aidar é do grupo político que
administrou a OAB por duas vezes na década de 80 e foi novamente eleito em 97. Ferreira foi
presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo.
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