São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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JUSTIÇA
Cartazes e banners de advogados estão espalhados pelas ruas; para eles, propaganda é "manifestação democrática"
Candidatos à vaga na OAB sujam cidade

FLÁVIA DE LEON
DA REPORTAGEM LOCAL

Mal a cidade começa a esquecer a sujeira provocada pela disputa da eleição municipal e as ruas já estão novamente ocupadas por propaganda eleitoral. Os concorrentes, desta vez, são dois advogados que tentam ganhar a presidência da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e, contra a poluição visual que vêm patrocinando, nem mesmo a Prefeitura de São Paulo sabe o que fazer.
A prefeitura, segundo o secretário de Comunicação Social, Antenor Braido, teve de encomendar a sua assessoria jurídica um parecer sobre o que pode ser feito para conter a proliferação da sujeira. E o problema é que o parecer só estará pronto às vésperas da eleição, marcada para esta quinta-feira.
"A OAB não está enquadrada na regulamentação para uso do espaço público. Não é uma entidade pública, mas é grande e conhecida. Porém, temos de ver o que é possível fazer, pois o que está havendo é o uso do espaço público para campanha privada."
A confusão é tanta que até mesmo a operação de retirada de faixas, que começou a ser feita na última sexta-feira na Praça João Mendes, no centro, foi suspensa.
Os dois candidatos, Carlos Miguel Aidar, atual secretário-geral da entidade e líder da chapa Avança OAB, e seu adversário, Roberto Ferreira, que encabeça a Oposição Unida, têm em comum a promessa de retirar banners, outdoors e cartazes no dia seguinte ao da eleição e o modo como classificam a propaganda de rua: uma manifestação democrática.
Mas nenhum dos dois consegue contabilizar com exatidão a sua parcela de contribuição para a poluição visual. Aidar conta cerca de 60 outdoors e 1.800 banners, todos ganhos de clientes.
"Tenho a sorte de advogar para empresas de propaganda visual. Ganhei todo o papel e as faixas em branco. Mas não uso cartazes colados em postes, pois acho que deixam uma marca indelével."
O candidato da oposição é pior nos números. "Tenho 30 mil "santinhos" para distribuir na boca-de-urna. Ganhei 250 faixas de um colega e alguns banners de outro. Mas, no interior, nosso pessoal é responsável pela campanha."
Como tem ocorrido nas eleições para cargos executivos públicos, os dois não dispensam as farpas. "Reconheço que houve de fato um exagero, mas começou pela situação, que tem a máquina."
Questionado se estava acusando o candidato Aidar de usar dinheiro da OAB para fazer a campanha, Ferreira recuou e disse que há "um comentário geral" entre os advogados nesse sentido.
Já Aidar afirma que seu adversário patrocina poluição visual também no interior do Estado. "Se você for a Campinas, ele (Ferreira) tem mais de 5.000 faixas. Eu não tenho nada no interior."

R$ 69 milhões
Os dois disputam a administração de um orçamento estimado em R$ 69 milhões para 2001. Para ganhar a eleição, Aidar diz que recebeu uma contribuição de R$ 500 de cada um dos 103 integrantes de sua chapa, o que resulta em R$ 51.500. Já Ferreira afirma que cada integrante de sua chapa entrou em média com R$ 2.500, o que significa R$ 257.500.
E, na batalha do voto, Ferreira resolveu advogar em favor dos colegas inadimplentes. Conseguiu obter uma liminar na Justiça que permitia a eles participar da votação. No final da tarde de ontem, a OAB conseguiu cassá-la.
Aidar é do grupo político que administrou a OAB por duas vezes na década de 80 e foi novamente eleito em 97. Ferreira foi presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo.



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