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SEGURANÇA
Escuta nos telefones descoberta em delegacia de São José dos Campos pode ser a primeira que o órgão sofre no país
Polícia Federal teve linhas grampeadas
KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
MARCELO CLARET
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
A Polícia Federal de São José dos
Campos foi vítima de uma de suas
armas de investigação. A delegacia da PF teve as linhas telefônicas
grampeadas, possivelmente, por
algum grupo criminoso interessado em antecipar ações da polícia.
Essa pode ser a primeira vez que
uma delegacia da Polícia Federal é
grampeada no país. A própria
corporação admite nunca ter recebido informações de escutas em
telefones de delegacias para monitorar a ação dos policiais.
A organização é um dos principais serviços de inteligência do
país na investigação de crimes.
O caso, no entanto, não provocou nenhuma ação da PF, que informou que já são realizadas
ações periódicas de rastreamentos nas linhas, o que evitaria que a
segurança fosse posta em risco.
Embora a PF de Brasília tenha
afirmado que há linhas seguras,
nas quais a instalação de escutas
seria impossível, o grampo telefônico em São José foi percebido só
anteontem. A suspeita de que as
ligações da polícia eram monitoradas já durava duas semanas.
O delegado da unidade, Marcus
Vinícius Deneno, disse que a suspeita surgiu com as oscilações de
tensão nas linhas telefônicas, percebidas por meio de um equipamento que aponta grampos.
As escutas foram detectadas anteontem, numa análise de peritos
do Setor de Criminalística da PF
de São Paulo, após solicitação de
averiguação. A delegacia tem
mais de dez linhas telefônicas. O
número exato não foi divulgado.
A estratégia pode estar sendo
utilizada por quadrilhas ligadas
ao narcotráfico, roubo de cargas
ou à "máfia do combustível", segundo o delegado.
"Isso prova que estamos atrapalhando o trabalho de alguém [crime organizado] na região. O
grampo só vai nos levar a um outro grupo que, fatalmente, acabará preso", disse o delegado.
O grampo nas linhas chegou a
frustrar duas operações de combate ao tráfico de drogas no Vale
do Paraíba, segundo o delegado.
Com os telefones grampeados,
os policiais foram obrigados a utilizar celulares particulares durante as investigações para impedir
que os trabalhos investigativos
fossem descobertos.
A prisão anteontem de José Benedito Pereira, o Dito, suspeito de
comandar uma quadrilha interestadual de roubo de cargas, e de
outras 28 pessoas do grupo, foi
realizada após contatos com outras delegacias da PF, feitos somente por meio de celulares. "Foi
o jeito que encontramos para evitar que alguém acompanhasse as
investigações", afirmou Deneno.
Segundo o delegado, os três peritos da criminalística da PF devem emitir um laudo, na próxima
semana, que apontará em que
área da cidade as escutas foram
instaladas. O delegado disse que
as inspeções no sistema telefônico
da unidade serão intensificadas e
que deverão ocorrer mais de uma
vez por mês.
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