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MORTE NA PF
Superintendente nega versão adulterada sobre o espancamento de preso nas dependências da instituição, no Rio
Secretário de direitos humanos vê "história da carochinha"
SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO
O secretário de Estado de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, disse ontem que o primeiro registro da Polícia Federal do
Rio a respeito da morte do auxiliar de cozinha Antônio Gonçalves de Abreu era "insustentável,
uma história da carochinha".
O registro do delegado de plantão, Marcelo Durval Soares, informava que Abreu tinha sido espancado por um dos dois homens
com quem dividia a cela.
"Vi que aquilo era completamente insustentável, uma história
da carochinha cheia de detalhes
fantásticos", disse Pinheiro.
O secretário contou que, dias
depois, procurou o presidente
Fernando Henrique Cardoso pedindo seu empenho no caso, pois,
para ele, o episódio fragilizaria a
imagem do Brasil no exterior.
FHC publicou, então, um despacho determinando a investigação imediata e o empenho da Secretaria de Direitos Humanos no
caso. Em seguida, os 17 agentes e
os dois delegados de plantão no
dia do crime foram afastados.
O último caso de tortura nas dependências da PF, segundo Pinheiro, ocorreu em 1995 em Fortaleza. "Ultimamente, foram notificados casos de tortura envolvendo policiais civis e militares, não
federais. Não dá para no próprio
órgão do governo federal torturarem e matarem um preso."
Abreu morreu no hospital no
dia 8 de setembro, depois de ser
preso pela PF. Estava com Samuel
Cerqueira e Márcio Gomes, também presos. Os três eram acusados de matar, horas antes, o agente federal Gustavo M. Moreira.
O exame no corpo concluiu que
o auxiliar de cozinha, que tinha 35
anos, foi vítima de traumatismo
craniano provocado por "instrumento contundente" e alvo de
"crueldade". Abreu foi espancado
nas dependências da PF.
Outro lado
O superintendente Marcelo Itagiba negou ontem que a primeira
versão relatasse que Abreu morreu após agressão por colegas.
"Isso é um erro. O que nós divulgamos foi o boletim de ocorrência feito pelo delegado de
plantão no dia da morte. Nunca
houve uma versão da PF. Se isso
tivesse acontecido, não teríamos
aberto inquérito."
Ele afirmou não saber quando o
novo delegado encarregado do
caso chegará ao Rio. Paulo Yung,
de Santa Catarina, foi designado
pela direção da PF.
Nota divulgada ontem informa
que "em nenhum momento a Polícia Federal deixou de reconhecer
que os fatos são graves e que têm
merecido da instituição total
transparência e celeridade".
O secretário de Direitos Humanos informou que, quando houver o indiciamento dos acusados,
fará um projeto de lei pedindo a
concessão de pensão vitalícia para
a família de Abreu.
Itagiba prestará depoimento
hoje sobre o caso na Comissão de
Direitos Humanos da Assembléia
Legislativa do Rio.
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