São Paulo, quinta-feira, 14 de novembro de 2002

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MORTE NA PF

Superintendente nega versão adulterada sobre o espancamento de preso nas dependências da instituição, no Rio

Secretário de direitos humanos vê "história da carochinha"

SABRINA PETRY
DA SUCURSAL DO RIO

O secretário de Estado de Direitos Humanos, Paulo Sérgio Pinheiro, disse ontem que o primeiro registro da Polícia Federal do Rio a respeito da morte do auxiliar de cozinha Antônio Gonçalves de Abreu era "insustentável, uma história da carochinha".
O registro do delegado de plantão, Marcelo Durval Soares, informava que Abreu tinha sido espancado por um dos dois homens com quem dividia a cela.
"Vi que aquilo era completamente insustentável, uma história da carochinha cheia de detalhes fantásticos", disse Pinheiro.
O secretário contou que, dias depois, procurou o presidente Fernando Henrique Cardoso pedindo seu empenho no caso, pois, para ele, o episódio fragilizaria a imagem do Brasil no exterior.
FHC publicou, então, um despacho determinando a investigação imediata e o empenho da Secretaria de Direitos Humanos no caso. Em seguida, os 17 agentes e os dois delegados de plantão no dia do crime foram afastados.
O último caso de tortura nas dependências da PF, segundo Pinheiro, ocorreu em 1995 em Fortaleza. "Ultimamente, foram notificados casos de tortura envolvendo policiais civis e militares, não federais. Não dá para no próprio órgão do governo federal torturarem e matarem um preso."
Abreu morreu no hospital no dia 8 de setembro, depois de ser preso pela PF. Estava com Samuel Cerqueira e Márcio Gomes, também presos. Os três eram acusados de matar, horas antes, o agente federal Gustavo M. Moreira.
O exame no corpo concluiu que o auxiliar de cozinha, que tinha 35 anos, foi vítima de traumatismo craniano provocado por "instrumento contundente" e alvo de "crueldade". Abreu foi espancado nas dependências da PF.

Outro lado
O superintendente Marcelo Itagiba negou ontem que a primeira versão relatasse que Abreu morreu após agressão por colegas.
"Isso é um erro. O que nós divulgamos foi o boletim de ocorrência feito pelo delegado de plantão no dia da morte. Nunca houve uma versão da PF. Se isso tivesse acontecido, não teríamos aberto inquérito."
Ele afirmou não saber quando o novo delegado encarregado do caso chegará ao Rio. Paulo Yung, de Santa Catarina, foi designado pela direção da PF.
Nota divulgada ontem informa que "em nenhum momento a Polícia Federal deixou de reconhecer que os fatos são graves e que têm merecido da instituição total transparência e celeridade".
O secretário de Direitos Humanos informou que, quando houver o indiciamento dos acusados, fará um projeto de lei pedindo a concessão de pensão vitalícia para a família de Abreu.
Itagiba prestará depoimento hoje sobre o caso na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio.


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