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Para psicólogos, jovens se sentiram impunes
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Psicólogos e psiquiatras especialistas em comportamento
adolescente dizem ver com estranheza a conduta violenta
atribuída aos três jovens acusados de estupro. Para eles, em situações como esta, há vestígios
anteriores de distúrbios, que
podem ter sido escamoteados
ou relevados por pais, por amigos ou pela escola.
Alexandre Saadeh, do serviço
de psicoterapia do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que, até
pelo excesso de crueldade do
caso, já havia sinais de personalidade e que um crime como esse cometido por jovens "não se
manifesta de maneira isolada".
"Antes de uma conduta mais
violenta e desrespeitadora de
normas e de regras, pela crueza
do caso, já havia sinais. Por
mais bêbados que estivessem, é
muita violência e muita maldade para essa situação. Chama a
atenção o requinte de crueldade que foi usado contra a menina", afirma Saadeh.
Psicólogo especializado em
adolescência, Miguel Perosa,
da PUC de São Paulo, ressalta
que a "sensação de impunidade" que os jovens tiveram, por
serem de classe média, os impulsionou a cometer o crime.
"Para colocarem isso na internet é preciso que se sintam
impunes, que a realização do
desejo seja legítima. Eles imaginam que o que fizeram é correto e que nada vai acontecer
com eles. Essa pressuposição
da impunidade é que me chama
a atenção", diz Perosa.
Segundo Saadeh, a conduta
em grupo é comum na formação da personalidade do adolescente e, nessa idade, "há uma
questão transgressora de romper limites, de romper determinadas normas e regras".
"Agora, há coisas que não se
pode relevar, como violência
sexual e assassinatos. E eles sabem o que é certo e o que é errado. Aos 18 anos já são capazes e
imputáveis", afirma Saadeh. "O
grupo dá reforço. Estar em três
é bem mais "confortável" [para]
cometer uma coisa dessas do
que sozinho", completa.
Desejo
Para Perosa, na adolescência
os jovens ficam "subservientes
ao desejo, que não pode ser
frustrado" e a bebida alcoólica
"provoca um relaxamento da
conduta moral" e "libera mais o
impulso". "Mas para colocar o
vídeo na internet o efeito do álcool já deve ter passado. Então
eles estavam claramente conscientes", afirma Saadeh.
Segundo diz, colocar o vídeo
na rede foi "uma tentativa de se
vangloriar de alguma forma".
"Colocar na internet é querer
destruir a menina sem a menor
noção de que isso os compromete. É uma prova."
"Se realmente achassem que
era crime, porque iriam se denunciar colocando as imagens
na internet? Na cabeça deles
era preciso satisfazer o desejo,
"eu quero, eu faço". Não sei se
eles tiveram a percepção de crime", completa Perosa.
Para ele, os pais "precisam
dizer "não" mais freqüentemente". "Passamos, de uns 50
anos para cá, a achar que é proibido proibir, que a lei não liberta, restringe. E ficamos subservientes ao desejo, que não pode
ser frustrado."
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