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entrevista
Para advogado, polícia deve ser reformulada
DA REPORTAGEM LOCAL
O advogado Oscar Vilhena Vieira, 42, diz considerar este momento -em
que policiais civis paulistas terminam sua primeira
greve- ideal para discutir
uma mudança estrutural
no modelo de segurança
pública.
Viera é mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA), doutor em
ciências políticas pela
USP, professor da Escola
de Direito da FGV e diretor jurídico da Conectas
Direitos Humanos.
FOLHA - Avaliando historicamente, o que deixa a greve?
OSCAR VILHENA VIEIRA - As
policias não foram capazes
de prover um bom serviço
de segurança pública nos
últimos 20 anos. Acho que
isso é um problema de desenho institucional, de
duas polícias que competem entre si. As reclamações sempre vieram de fora: da sociedade civil, da
imprensa e da academia.
As polícias nunca se expuseram. O que nós podemos
tirar de positivo nisso é
não limitar a discussão à
questão salarial, mas tentar expandi-la a que polícia nós queremos. Acho
que, se os políticos souberem ler este momento, lerão duas coisas: nós temos
uma polícia que nesses 20
anos mostrou-se insuficiente para atender o interesse público; e que as próprias polícias se sentem
também insatisfeitas com
o atendimento que o Estado dá a elas.
FOLHA - Há quem defenda
acabar com a existência de
duas polícias. Seria o caso de
chegar a esse ponto?
VIEIRA - Eu entendo que
sim. Eu entendo que a sociedade brasileira se sente
comprimida pelo crime e
ela não vê uma resposta
suficiente por parte do Estado. Estou longe de achar
que a polícia é a única coisa importante em segurança pública. Agora, há
um componente da segurança pública -seu pilar
essencial chama-se polícia. O fato é que, nesses
anos, as polícias não foram
eficientes como mecanismo de prevenção, e muito
pouco eficientes em investigação. Há críticas tanto à
Polícia Militar quando à
Polícia Civil. Ambas cumprem seu papel de maneira muito medíocre. Por
quê? Há vários motivos,
mas entre eles está o fato
de que elas não contribuem uma com a outra. Há
uma disputa entre as duas
polícias e quem sai perdendo é a sociedade. Há,
ainda, a falta de controle:
há uma polícia muito violenta e a outra, corrupta.
Se a informação é o elemento essencial para a eficiência policial, quem vai
confiar numa polícia que é
violenta e corrupta?
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