São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2008

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entrevista

Para advogado, polícia deve ser reformulada

DA REPORTAGEM LOCAL

O advogado Oscar Vilhena Vieira, 42, diz considerar este momento -em que policiais civis paulistas terminam sua primeira greve- ideal para discutir uma mudança estrutural no modelo de segurança pública.
Viera é mestre em direito pela Universidade Columbia (EUA), doutor em ciências políticas pela USP, professor da Escola de Direito da FGV e diretor jurídico da Conectas Direitos Humanos.

 

FOLHA - Avaliando historicamente, o que deixa a greve?
OSCAR VILHENA VIEIRA
- As policias não foram capazes de prover um bom serviço de segurança pública nos últimos 20 anos. Acho que isso é um problema de desenho institucional, de duas polícias que competem entre si. As reclamações sempre vieram de fora: da sociedade civil, da imprensa e da academia.
As polícias nunca se expuseram. O que nós podemos tirar de positivo nisso é não limitar a discussão à questão salarial, mas tentar expandi-la a que polícia nós queremos. Acho que, se os políticos souberem ler este momento, lerão duas coisas: nós temos uma polícia que nesses 20 anos mostrou-se insuficiente para atender o interesse público; e que as próprias polícias se sentem também insatisfeitas com o atendimento que o Estado dá a elas.

FOLHA - Há quem defenda acabar com a existência de duas polícias. Seria o caso de chegar a esse ponto?
VIEIRA
- Eu entendo que sim. Eu entendo que a sociedade brasileira se sente comprimida pelo crime e ela não vê uma resposta suficiente por parte do Estado. Estou longe de achar que a polícia é a única coisa importante em segurança pública. Agora, há um componente da segurança pública -seu pilar essencial chama-se polícia. O fato é que, nesses anos, as polícias não foram eficientes como mecanismo de prevenção, e muito pouco eficientes em investigação. Há críticas tanto à Polícia Militar quando à Polícia Civil. Ambas cumprem seu papel de maneira muito medíocre. Por quê? Há vários motivos, mas entre eles está o fato de que elas não contribuem uma com a outra. Há uma disputa entre as duas polícias e quem sai perdendo é a sociedade. Há, ainda, a falta de controle: há uma polícia muito violenta e a outra, corrupta.
Se a informação é o elemento essencial para a eficiência policial, quem vai confiar numa polícia que é violenta e corrupta?


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