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Subestação do apagão nunca foi vistoriada
Agência responsável por fiscalizar setor não fiscalizou Itaberá, apontada pelo governo como origem do blecaute de terça-feira
As outras duas subestações envolvidas no sistema foram fiscalizadas há mais de dois anos; são 187 fiscais para 90.000 km de linhas
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Aneel (Agência Nacional de
Energia Elétrica) nunca vistoriou a subestação de Itaberá
(SP), apontada pelo governo como origem do blecaute que deixou 18 Estados sem luz na terça-feira. As outras duas subestações envolvidas, Ivaiporã (PR) e
Tijuco Preto (SP), foram fiscalizadas há mais de dois anos.
No caso de Ivaiporã, a última
vistoria foi feita em 2006. Em
Tijuco Preto, no final de junho
de 2007, segundo a agência. A
fiscalização em Tijuco Preto levou a Aneel a abrir um processo
administrativo contra Furnas.
A agência não pode informar
detalhes das falhas que deram
origem ao processo porque ele
está em andamento.
A Aneel informou que não é
possível fiscalizar todo o sistema de transmissão com equipes
no local. São aproximadamente
90.000 quilômetros de linhas e
450 subestações. A agência tem
187 fiscais, entre servidores do
quadro próprio e de agências estaduais conveniadas.
Conforme a Aneel, todos os
contratos de manutenção de
equipamento passam por fiscalização e o critério para escolher
quais subestações serão fiscalizadas é sua importância para o
sistema. Itaberá é considerada
de menor porte e, por isso, não
recebeu fiscalização no local.
Ainda de acordo com a agência, o problema que deu origem
ao blecaute não ocorreu dentro
da subestação e sim na linha,
que também não foi vistoriada.
O processo de apuração do blecaute, porém, ainda não acabou.
Procurada, Furnas não se
manifestou sobre os processos
de fiscalização da Aneel.
"A qualidade da fiscalização
deixa a desejar", disse César de
Barros Pinto, diretor-executivo
da Abrate (Associação Brasileira das Grandes Empresas de
Transmissão de Energia Elétrica). "Eles ainda estão aprendendo a fiscalizar. Até pouco tempo
nem tinham quadro para isso."
Segundo ele, a fiscalização da
Aneel dificilmente acontece nas
linhas, que só são visitadas em
caso de acidente. As visitas dos
fiscais se restringem às subestações mais importantes.
Apesar disso, Barros Pinto
defende que a pouca fiscalização não afeta a qualidade dos
serviços, por conta do modelo
do setor. "Cada vez que um
equipamento fica indisponível,
nós pagamos, porque temos diminuição da receita recebida.
Ou seja, é do interesse das empresas manter os equipamentos
nas melhores condições."
Sobre o acidente, ele afirmou
que ocorrem cerca de 200 desligamentos de linha por dia no
sistema, mas sem maiores reflexos por conta dos sistemas de
proteção.
"Eventos como o de terça-feira nunca são causados por um
único fator. Não tem como não
ter havido uma falha."
A Aneel vai abrir processo
contra Itaipu, Furnas e o ONS
(Operador Nacional do Sistema
Elétrico) para apurar responsabilidades no apagão. Ela aguarda o "Relatório de Análise de
Perturbações", que deve ser
concluído pelo ONS até terça.
De acordo com o ONS, a hidrelétrica de Itaipu não estava
gerando além do permitido na
noite de terça. "Itaipu estava gerando bem, mas dentro do permitido. Ela estava gerando bem
porque os reservatórios estavam cheios", informou Eduardo
Barata, diretor do ONS.
Colaborou EDUARDO GERAQUE , da Reportagem Local
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