São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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ANÁLISE

Saneamento básico e turismo: o que essas coisas têm em comum


A INDÚSTRIA DO TURISMO GERA UM CUSTO AMBIENTAL CUJO RESULTADO É O ESVAZIAMENTO E A REDUÇÃO DO PRÓPRIO TURISMO

CARLOS TIEGHI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Coleta e tratamento de esgoto são direitos garantidos constitucionalmente no país.
Esse reconhecimento legal se deve aos impactos dos serviços na saúde e no meio ambiente. Sua carência também influencia as áreas de educação, trabalho, economia, biodiversidade e turismo.
A realidade traduzida em um deficit de rede coletora de esgotos para 57% da população (dado de 2008 do Sistema Nacional de Informações de Saneamento) revela, no entanto, o atraso da agenda nacional em saneamento.
Apesar de o país possuir hoje o 10º maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, está na 73ª posição quando o assunto é IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Em um terceiro ranking, o de pessoas sem acesso a banheiro, divulgado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e pela OMS (Organização Mundial de Saúde), o país aparece em 9º lugar: são 13 milhões sem um banheiro em casa.
Uma pesquisa do Instituto Trata Brasil encomendada à FGV e intitulada "Saneamento, Educação, Trabalho e Turismo" mostra que a indústria do turismo, apesar de proporcionar mais arrecadação e renda, não gera melhorias no saneamento. Os 20 locais estudados apresentaram subinvestimento na área.
Contrapondo-se ao aumento de arrecadação e renda, a indústria do turismo gera custos ambientais e sociais cujo resultado é o próprio esvaziamento e a redução do consumo turístico.
A maioria das praias está poluída, o que faz com que a população passe a frequentar locais cada vez mais distantes dos centros urbanos.
Apesar de serem o principal destino turístico no Brasil, as cidades com praias têm menos acesso à rede de esgoto que as não litorâneas.
Uma melhora nos índices de coleta e tratamento de esgotos traria benefícios às cidades e, consequentemente, mais turistas e mais renda.
Um país que receberá milhares de turistas durante a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 deveria priorizar os investimentos nessa área, fundamental para o desenvolvimento e para a melhoria geral da qualidade de vida.
O melhor legado que as cidades sede da Copa, todas destinos turísticos importantes, poderiam deixar à sua população seria uma solução definitiva para os seus esgotos. Seria, talvez, mais motivo de orgulho aos seus governantes e moradores do que outras obras vultosas, mas de aproveitamento questionável para a sociedade local.


CARLOS TIEGHI é presidente do conselho do Instituto Trata Brasil


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