|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Arte revelada
Restauração recupera estilos, cores e arquitetura do convento da igreja de Santo Antônio, a mais antiga do Rio
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A restauração do convento
de Santo Antônio começa a revelar detalhes da mais antiga
igreja do Rio, de 1608. Camadas
originais de tinta são recuperadas; arcos ocultos por reformas
reaparecem; o dourado das capelas tem o brilho restabelecido com a raspagem da purpurina e tinta a óleo que o cobriam.
O convento foi um dos primeiros tombamentos nacionais -em 1938, pelo atual
Iphan (Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional).
Por falta de segurança e de infraestrutura, a visitação não é
permitida atualmente.
Erguida no morro de Santo
Antônio (largo da Carioca, centro do Rio), a igreja completou
401 anos do lançamento de sua
pedra fundamental. Mais antiga do que ela só havia a do morro do Castelo, destruída.
O convento fica do lado direito da igreja de Santo Antônio. É
uma edificação de três andares,
datada de meados do século 18.
Uma das surpresas do trabalho de restauração apareceu na
capela de Nossa Senhora das
Dores, uma das quatro do
claustro (pátio interno ajardinado) do convento.
A chefe da equipe de restauração, Rejane Oliveira dos Santos, conta que foram recuperadas talhas de madeira que remontam à primeira fase do barroco, do século 17.
"Essa capela foi uma grande
surpresa. Conseguimos descobrir os projetos artísticos da
época. Chegamos aos tons originais. Até mesmo o vermelho
de um arco ressurgiu", festejou.
No interior da igreja, ressurgiu parcialmente o topo de três
arcos originais do século 17, escondidos por paredes em reforma havia pelo menos 200 anos.
"Na igreja, a grande descoberta foram os arcos. Eles compunham as portas da antiga galilé [construção na entrada de
templos]", relatou o frei Roger
Brunorio, museólogo responsável pelo acervo do convento.
Ainda na igreja, os restauradores têm conseguido restituir
o tom dourado das colunas salomônicas (em espiral, retorcidas), oculto pela oxidação e pelas pinturas feitas indevidamente nos séculos 19 e 20.
As escavações externas revelaram ainda as tubulações e as
canaletas que traziam água para a cisterna, do final do século
17, considerada a mais antiga
do Rio e que está desativada.
As peças mais antigas do convento são duas imagens de Santo Antônio, que estão à vista. A
de Santo Antônio do Relento
está na fachada da igreja, protegida por uma vidraça e voltada
para a paisagem do centro do
Rio e da baía de Guanabara. A
outra fica no interior da igreja.
São trabalhos de 400 anos, presumem os especialistas.
Inventário
O inventário do convento de
Santo Antônio, que o Iphan
concluiu, lista cerca de 2.000
peças móveis, como crucifixos,
e integradas, como lápides, entre outras características arquitetônicas e decorativas fixas.
Todas elas foram fotografadas. Além de saber o que de precioso uma construção de 400
anos guarda, o inventário tem
por meta dificultar a ação de ladrões de objetos sacros.
Para o Iphan, os bens catalogados e com imagem conhecida
tornam-se menos interessantes para saqueadores de igrejas,
conventos e mosteiros, já que
passa a ser mais difícil conseguir comprador para o objeto.
Segundo o superintendente
do Iphan no Estado, Carlos
Fernando Andrade, o inventário revelou a existência de bens
raros. "É um acervo muito rico.
A maioria dele [é] do século 18."
O frei Roger Brunorio conta
que dois inventários de peças
foram feitos ao longo dos séculos pela igreja. A data do primeiro é desconhecida. O segundo é de 1849.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Foco: Família de Matuiti Mayezo vai decidir o destino de quase meio século de fotos Índice
|