São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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Arte revelada

Restauração recupera estilos, cores e arquitetura do convento da igreja de Santo Antônio, a mais antiga do Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A restauração do convento de Santo Antônio começa a revelar detalhes da mais antiga igreja do Rio, de 1608. Camadas originais de tinta são recuperadas; arcos ocultos por reformas reaparecem; o dourado das capelas tem o brilho restabelecido com a raspagem da purpurina e tinta a óleo que o cobriam.
O convento foi um dos primeiros tombamentos nacionais -em 1938, pelo atual Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Por falta de segurança e de infraestrutura, a visitação não é permitida atualmente.
Erguida no morro de Santo Antônio (largo da Carioca, centro do Rio), a igreja completou 401 anos do lançamento de sua pedra fundamental. Mais antiga do que ela só havia a do morro do Castelo, destruída.
O convento fica do lado direito da igreja de Santo Antônio. É uma edificação de três andares, datada de meados do século 18.
Uma das surpresas do trabalho de restauração apareceu na capela de Nossa Senhora das Dores, uma das quatro do claustro (pátio interno ajardinado) do convento.
A chefe da equipe de restauração, Rejane Oliveira dos Santos, conta que foram recuperadas talhas de madeira que remontam à primeira fase do barroco, do século 17.
"Essa capela foi uma grande surpresa. Conseguimos descobrir os projetos artísticos da época. Chegamos aos tons originais. Até mesmo o vermelho de um arco ressurgiu", festejou.
No interior da igreja, ressurgiu parcialmente o topo de três arcos originais do século 17, escondidos por paredes em reforma havia pelo menos 200 anos.
"Na igreja, a grande descoberta foram os arcos. Eles compunham as portas da antiga galilé [construção na entrada de templos]", relatou o frei Roger Brunorio, museólogo responsável pelo acervo do convento.
Ainda na igreja, os restauradores têm conseguido restituir o tom dourado das colunas salomônicas (em espiral, retorcidas), oculto pela oxidação e pelas pinturas feitas indevidamente nos séculos 19 e 20.
As escavações externas revelaram ainda as tubulações e as canaletas que traziam água para a cisterna, do final do século 17, considerada a mais antiga do Rio e que está desativada.
As peças mais antigas do convento são duas imagens de Santo Antônio, que estão à vista. A de Santo Antônio do Relento está na fachada da igreja, protegida por uma vidraça e voltada para a paisagem do centro do Rio e da baía de Guanabara. A outra fica no interior da igreja. São trabalhos de 400 anos, presumem os especialistas.

Inventário
O inventário do convento de Santo Antônio, que o Iphan concluiu, lista cerca de 2.000 peças móveis, como crucifixos, e integradas, como lápides, entre outras características arquitetônicas e decorativas fixas.
Todas elas foram fotografadas. Além de saber o que de precioso uma construção de 400 anos guarda, o inventário tem por meta dificultar a ação de ladrões de objetos sacros.
Para o Iphan, os bens catalogados e com imagem conhecida tornam-se menos interessantes para saqueadores de igrejas, conventos e mosteiros, já que passa a ser mais difícil conseguir comprador para o objeto.
Segundo o superintendente do Iphan no Estado, Carlos Fernando Andrade, o inventário revelou a existência de bens raros. "É um acervo muito rico. A maioria dele [é] do século 18."
O frei Roger Brunorio conta que dois inventários de peças foram feitos ao longo dos séculos pela igreja. A data do primeiro é desconhecida. O segundo é de 1849.


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