São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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EDUCAÇÃO

Quase a metade dos estudantes já trabalhou

Enem atrai alunos de baixa renda interessados no ensino superior

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Praticamente a metade dos alunos atraídos pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) no ano passado tem renda baixa, já trabalhou enquanto cursava o ensino médio para ajudar a família ou tentar ser independente e se classifica como negro ou pardo.
Além disso, 55,76% têm mais de 19 anos, ou seja, estão fora da faixa etária regular para o ensino médio. Esse perfil, obtido por meio de questionários socioeconômicos recém-tabulados do Enem, ajuda a explicar o motivo apontado pela maioria para prestar a prova, que não é obrigatória -67% deles dizem ter sido para entrar no ensino superior.
O resultado vai ao encontro da expectativa do governo federal, que passou a usar o Enem como porta de entrada para um dos principais projetos do governo Lula, o Prouni (Programa Universidade para Todos). Por meio do Prouni, alunos com renda familiar de até três salários mínimos recebem bolsas integrais ou parciais de 50% da mensalidade para estudar em instituições particulares. Em contrapartida, elas podem obter isenção fiscal.
A nota do Enem é usada ainda por cerca de 470 instituições de ensino superior nos processos seletivos para cursos de graduação.
Em 2005, a prova do Enem foi realizada por 2,199 milhões de alunos, maior número desde 1998, quando foi criado. Do total, 74% são egressos da rede pública.
Como o Enem tem o objetivo de ajudar o estudante a fazer uma avaliação de seus conhecimentos, pode ser prestado também por pessoas que já concluíram o ensino médio. No ano passado, 43% estavam nessa situação.
Os dados socioeconômicos do Enem não são comparáveis de um ano para outro, mas servem para dar uma tendência da mudança de perfil dos que o procuraram. Enquanto no ano passado 48,53% disseram ter renda familiar de até dois salários mínimos, num universo de 1,95 milhão dos que responderam ao questionário, esse percentual em 2004 foi de 35,8% entre um total de 1,002 milhão de estudantes. O principal motivo para prestar o Enem também mudou. A maioria alegou que seria para entrar na universidade. Em 2004, 45% diziam ter interesse em testar conhecimento e capacidade de raciocínio.
Corroborando resultados de outras pesquisas, o desempenho no Enem está ligado às faixas etária e de renda. Tiveram as melhores notas alunos com renda mais alta e menor idade. Exemplo: enquanto cerca de 80% dos sem renda ou com até um salário mínimo tiveram desempenho na faixa de até 40 pontos (de zero a cem) na prova objetiva, cerca de 40% dos alunos com renda acima de dez salários mínimos tiveram notas com mais de 70 pontos.


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