São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Bombeiros localizam van nos escombros; Serra acha difícil haver sobreviventes

Deslizamentos de terra impediram a retirada do veículo na cratera do Metrô

Governador assistiu a vídeo que mostrava microônibus muito amassado

Ao ser questionado sobre a hipótese de haver sobreviventes, José Serra disse: "Não sei. Deus queira. Mas parece pouco provável"

Ayrton Vignola / Folha Imagem
Bombeiros e funcionários do Metrô observam a ação de máquina retroescavadeira em busca de um microônibus soterrado


DA REPORTAGEM LOCAL

Esperança, desânimo e trabalho frustrado. O terceiro dia de buscas por vítimas soterradas na cratera formada após o desabamento do canteiro de obras do metrô, em Pinheiros, foi de boatos e de apenas uma certeza: encontraram a van, engolida pelo buraco na sexta-feira, que teria quatro das sete possíveis vítimas.
Sua retirada, porém, não foi possível porque dois deslizamentos de terra interromperam os trabalhos. Assim, nenhuma vítima até a madrugada de hoje havia sido encontrada. Abatidos, os parentes dos desaparecidos tentavam manter as esperanças.
Já o governador José Serra (PSDB) afirmou à noite, após ver imagens da van feitas pelos bombeiros, duvidar da possibilidade de haver sobreviventes. As causas do acidente estão sendo apuradas, disse.
A van foi localizada por volta das 8h, quando o resgate visualizou a parte traseira do veículo enquanto escavava a terra que soterrou a boca do fosso e entrou em parte do túnel abaixo dele. A van estava a oito metros do solo, toda coberta de terra e escombros.
Para dificultar ainda mais o trabalho dos bombeiros, dois caminhões da obra estavam na superfície do fosso, sobre uma estrutura de concreto e terra que encobria o carro. Içá-los por guindastes seria arriscado, disse um bombeiro, porque ele poderia cair. Três caminhões que não representavam risco foram rebocados anteontem.
A estratégia adotada à tarde foi puxar a van pelo túnel, ligando um cabo de aço entre o veículo e um trator. O movimento, porém, não chegou a ser feito porque dois deslizamentos inviabilizaram o trabalho.
Dezoito homens dos grupos de resgate que estavam no local tiveram de deixar seus postos. A informação era de que o veículo estava bastante amassado.
Após a tentativa frustrada, a má notícia: as buscas pelos corpos foram suspensas por baixo da terra às 18h. Só as escavações na superfície continuavam. "Se continuássemos escavando por baixo, o ambiente poderia se tornar perigoso para os homens do resgate", explicou o capitão Minori, coordenador dos trabalhos. "Teremos de definir uma nova estratégia."
Contar apenas com a escavação pela superfície não é possível porque levaria mais tempo e tornaria ainda mais difícil o resgate de vítimas com vida. A Folha apurou que cães farejadores usados nas buscas sentiram o cheiro de corpos dentro do túnel, que também tinha restos de escombros e outros carros -oficialmente, três foram retirados de lá.
Após descer numa gaiola até o túnel onde foi localizada a van e assistir ao vídeo, Serra duvidou da possibilidade de que seus passageiros tenham sobrevivido. "Vítimas? Quem estiver dentro, terá sido vítima."
Ao ser questionado sobre a hipótese de sobreviventes, disse: "Não sei. Deus queira. Mas parece pouco provável". Serra - que usou máscara de proteção na vistoria - explicou que só foi possível ver os destroços do carro no vídeo. Às 19h04, quando chegou ao túnel, a área já estava encoberta pelos novos desabamentos.
O governador negou a acusação de que se esteja sonegando informação aos parentes das vítimas. "Não há sonegação. O que não há é efetivamente uma notícia de que se chegou e está podendo se chegar à van", disse Serra. Ao descrever a situação, momentos antes, ele contou: "Fui lá. Vi o novo desabamento. Não dá mais para ver a van."
Durante todo o dia não havia informações sobre os outros três desaparecidos: um motorista da obra e duas pessoas que poderiam estar perto do local.
As famílias tentavam manter a esperança. Iludidas por boatos, comemoraram e se desesperaram a cada informação. De concreto, apenas o tempo passando sem que um corpo aparecesse. "Cada minuto que passa é um pedacinho de chance de vida que se vai", dizia Marli Leite, irmã do motorista da van, Reinaldo Aparecido Leite. (DANIELA TÓFOLI, KLEBER TOMAZ, ALENCAR IZIDORO, GILMAR PENTEADO, CATIA SEABRA e CLÁUDIA COLLUCCI)


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