São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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"Principal erro é não responder rapidamente", diz médica de Harvard

Para Mary Elizabeth Wilson, não há motivos para pânico, mas governo deve mapear casos e locais de risco, dispor de ótimo sistema laboratorial e ter reserva de vacinas

FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REDAÇÃO

A médica norte-americana Mary Elizabeth Wilson, professora da faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard, diz que não há motivos para pânico no Brasil, já que os focos de febre amarela não são, por enquanto, urbanos, o que seria muito mais grave.
Ainda assim, ressalta que a doença é altamente letal ("50% das pessoas que ficam doentes morrem") e, portanto, precisa de muita atenção do governo. "É fundamental montar um bom sistema de vigilância, para saber em que região está o vírus e monitorar os casos", diz a especialista em dengue e febre amarela, que veio ao Brasil participar de um seminário.

 

FOLHA - O Aedes aegypti é o vetor da febre amarela e da dengue. O grande número de casos de dengue anuncia mais febre amarela?
MARY ELIZABETH WILSON -
A presença de muita dengue pode representar o potencial de transmissão da febre amarela. Mas é mais fácil para a dengue se espalhar. Elas são biologicamente diferentes. Você ter dengue não significa necessariamente que haverá febre amarela.

FOLHA - Que medidas efetivas podem ser tomadas?
WILSON -
É possível reduzir o número de mosquitos, reduzir as chances de ser picado, usando telas ou repelente, ou então se vacinar.

FOLHA - A vacina deve ser dada a toda população?
WILSON -
Não. Pessoas que têm deficiências imunológicas, doenças na glândula pineal, que tomam altas doses de esteróide ou têm Aids não devem receber porque têm mais riscos. Pessoas acima de 60 anos também têm riscos maiores de reações severas. Além disso, se o risco da doença é zero, não deveria receber a vacina nunca. Se for um risco substancial, a decisão é mais fácil e é preciso haver vacinação. O difícil é saber o risco.

FOLHA - O que fazer?
WILSON -
O que o sistema de saúde e o governo têm é que montar é um bom sistema de vigilância, para saber em que região está o vírus e quantos casos. É necessário um ótimo sistema laboratorial, porque apenas centros especializados conseguem identificar o vírus. Também é preciso haver reservas de vacina para fazer chegar aonde é necessário.

FOLHA - É comum a febre amarela parecer controlada e reaparecer?
WILSON -
É comum. O principal erro é não responder rapidamente. A maior preocupação é que o vírus chegue a uma grande cidade.

FOLHA - A febre amarela pode estar "batendo à porta" do Brasil?
WILSON -
Os mosquitos gostam de calor e umidade e o tamanho e variedade do Brasil é um aspecto a ser levado em conta. Em alguns países, o turista só entra se provar que tomou a vacina. O Brasil não faz isso. Da mesma forma, há o turismo interno. Alguns colegas me disseram que não há grande conhecimento sobre isso nas viagens dentro do país, locais de risco. É importante haver uma campanha de educação.

FOLHA - Houve bastante vacinação nos últimos dias. Decisão acertada?
WILSON -
Em lugares onde houve casos, a decisão é acertada. Mas requer um grupo de pessoas preparadas para tomar a melhor decisão. Se você pedir para as pessoas se vacinarem em todo o país e acabar a vacina, pode criar ansiedade desnecessária em lugares onde o risco da doença é pequeno.
Por outro lado, porque no Brasil há a transmissão na floresta, nunca será possível erradicar completamente. Não será possível eliminar o vírus, porque ele também está em animais, que estão nas matas. Por isso, é uma decisão acertada produzir vacina e ter um sistema de vigilância.


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