São Paulo, terça-feira, 15 de janeiro de 2008

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Mais 2 hospitais de SP funcionam sem aval dos bombeiros

Santa Casa e Hospital São Paulo, os maiores hospitais-escolas do Estado, não têm equipamentos de segurança em caso de incêndio

Especialistas constataram que a falta de escadas de emergência, de portas corta-fogo e de sinalização de rotas de fuga é problema comum

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os maiores hospitais-escolas de São Paulo -Santa Casa e Hospital São Paulo- não possuem autorização dos bombeiros para funcionar, a exemplo do que ocorre no Hospital das Clínicas, que sofreu um incêndio na véspera de Natal.
Tanto o Hospital São Paulo -vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), sob gestão do governo Lula- como a Santa Casa (filantrópico) não têm o AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), obrigatório para o funcionamento dos prédios, segundo a lei 684, de 1975.
A falta do documento ocorre por inadequações físicas, estruturais e pela falta de equipamentos de segurança em caso de incêndio -como escadas de emergência, portas corta-fogo, sinalizações de rota de fuga e de planos de evacuação.
O problema não está restrito à capital paulista. Segundo a ONA (Organização Nacional de Acreditação), empresa que confere certificado de qualidade hospitalar, 90% dos grandes hospitais brasileiros, inclusive os particulares, não têm o AVCB. Para obter a certificação, os hospitais precisam se adaptar às normas de segurança, inclusive as que tratam da prevenção a incêndios.
"No Brasil, as coisas só melhoram após tragédias. Espero que agora, com o incêndio no HC, os gestores acordem para esse grave problema de falta de segurança nos hospitais", afirma o médico Fábio Leite Gastal, consultor da ONA.
A Folha visitou as instalações da Santa Casa, na região central de São Paulo, e do HSP (Hospital São Paulo), na Vila Clementino (zona sul), em companhia de especialistas em edificações e constatou que um problema comum entre eles é a falta de escadas de emergência, de portas corta-fogo e de sinalização de rotas de fuga. No Hospital São Paulo, havia também encanamentos enferrujados e fios soltos no subsolo.
Procurado nos últimos dez dias para falar sobre a falta de segurança contra incêndio nos hospitais, o Corpo de Bombeiros se negou a falar. Os três pedidos de entrevista foram negados. O secretário da Saúde do Estado, Luiz Roberto Barradas Barata, não retornou as ligações da Folha.
Para o arquiteto Cesar Bergström, diretor do sindicato nacional das empresas de engenharia e arquitetura, o fato de as escadas não serem isoladas por portas corta-fogo faz, em caso de incêndio, com que gases tóxicos e fumaça se espalhem por todo o prédio. Bergström visitou o Hospital São Paulo a convite da Folha.
A falta de sinalização de rotas de fuga também é um problema importante, avalia. Em uma emergência, isso causaria confusão e pânico.
As superintendências do Hospital São Paulo e da Santa Casa confirmam os problemas e a falta do AVCB e dizem que estão providenciando melhorias nos prédios para se adaptar às normas de segurança (leia texto nesta página).
O Contru informou que vistoria hospitais mediante denúncias ou para realizar análises a pedido de órgãos públicos. Disse, ainda, que tanto a Santa Casa como o Hospital São Paulo já foram notificados a providenciar o documento.

Problemas
Em um prédio anexo ao Hospital São Paulo, onde funcionam os laboratórios, salas de aula e anfiteatros, a falta de segurança é ainda maior.
O prédio, de quatro andares (mais o subsolo), não tem escadas e nem saídas de emergência. As janelas são antigas, basculantes, que, em caso de fuga de emergência, não permitem a passagem das vítimas. Há uma porta única de entrada e saída.
Nos laboratórios, trabalha-se com álcool, xilol (solvente), parafina e gás encanado, além de outras substâncias inflamáveis e explosivas. Segundo um funcionário que não quer se identificar, já houve dois princípios de incêndio no laboratório de patologia, controlado por funcionários. "Nunca nem ameaçaram interditar o tal prédio na Unifesp. O que vejo de grave é essa condescendência com os órgãos públicos, que deveriam dar o exemplo", disse.
A Unifesp diz que o local será reformado em 2008 e terá uma escada de emergência externa.


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