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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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Travesti diz que não sai do local

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de os moradores apostarem que as obras no bairro irão finalmente conseguir inibir a prostituição, travestis que atuam no local afirmam que não sairão da avenida após a reforma.
"A idéia de colocar câmeras [cujas imagens serão transmitidas pela internet" só trará danos ao bairro. Isso vai ameaçar muitos casamentos", ironiza Midori Amorim, 30, que afirma trabalhar a aproximadamente dez anos no bairro Cidade Jardim.
O travesti, porém, reconhece que parte das reclamações dos moradores é verdadeira -principalmente em relação às queixas sobre violência.
Segundo ele, há um grupo de travestis que rouba na região. Esse grupo, diz Midori, é violento também contra os companheiros de profissão. "Eles nos cobram multa, que, na gíria, significa parte do nosso ganho da noite", afirma.
Porém, diz Midori, as rondas policiais acabam prendendo quem não tem nada a ver com isso. "Isso precisaria ser mais justo. Mas, na verdade, essas meninas que roubam têm proteção."
Alguns travestis são protegidos de cafetões que transitam pela região de motocicleta. Eles trabalhariam também com tráfico de drogas, segundo moradores.

Clientela é grande
Midori migrou de Belém do Pará (PA) para São Paulo e iniciou-se na prostituição aos 15 anos. Na avenida, onde fatura em média R$ 150 por dia, ele é respeitado pela antiguidade. Diz que a prostituição existe no bairro porque a clientela do Morumbi, vizinho a Cidade Jardim, é muito grande.
Os outros travestis da avenida são arredios. Respondem a duas ou três perguntas e fogem. Por volta das 20h da última quinta-feira, a reportagem flagrou um travesti praticando sexo com dois jovens aparentando cerca de 25 anos, na praça Professor Cardim.
Para Midori, também militante, os moradores deveriam investir em programas sociais e não nas obras antiprostituição. "Para a maioria de nós, que foi expulsa de casa, a rua é a única opção", diz.


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