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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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EDUCAÇÃO

Entre os inscritos com direito ao benefício, porém, há candidatos que seriam aprovados mesmo sem a reserva de vagas

Só 36,6% entram na Uerj fora das cotas

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

No primeiro vestibular com sistema de cotas no Brasil, apenas 36,6% dos alunos aprovados na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) não preencheram nenhum dos dois critérios de reserva de vagas.
Há dois critérios de cotas valendo para o vestibular da instituição. Um reserva 50% das vagas para alunos da rede pública, enquanto o outro estabelece que 40% dos aprovados têm de ser autodeclarados negros ou pardos.
Apesar de apenas 36,6% não se encaixarem em nenhuma cota, isso não significa que os demais (63,4%) entraram na universidade apenas porque foram beneficiados pela reserva de vagas. Alguns alunos que preenchiam pelo menos um dos dois critérios das cotas se classificariam mesmo que não houvesse o benefício.
Daniel Fernandes, 25, primeiro colocado no curso de medicina, é um dos que se inscreveram pelo sistema de cotas, mas seria aprovado mesmo no vestibular tradicional. Ele se declarou negro e estudou em escola pública.
A Uerj não fez o cálculo de quantos estudantes aprovados entraram única e exclusivamente por causa das cotas, ou seja, não conseguiriam a vaga se o governo do Estado não tivesse determinado a reserva de vagas para negros, pardos e alunos da rede pública nas universidades estaduais do Rio de Janeiro.
A instituição divulgou, no entanto, que pelo menos 643 candidatos (13% do total) conseguiram a vaga porque se declararam negros ou pardos, ou seja, eles não conseguiriam a vaga se não houvesse a cota racial.

Duas variáveis
Isso porque a universidade precisava preencher as duas cotas. Primeiramente, a Uerj se preocupou em fazer dois vestibulares separados, mas com o mesmo nível de dificuldade. Um, para o qual foi reservada metade das vagas, foi exclusivo para alunos da rede pública. O outro era destinado aos que não se enquadravam no critério de cotas da rede estadual.
O problema era que, além de reservar metade das vagas para estudantes da rede pública, era preciso também cumprir a lei que garante 40% das vagas para negros e pardos.
A primeira tentativa da Uerj foi preencher o critério de reserva de vagas para negros e pardos entre os alunos que se declararam assim e que também se encaixavam no critério da rede pública ou que já haviam conseguido notas suficientes para passar no vestibular tradicional.
Como não foi possível preencher todas as vagas para negros e pardos nesse universo, a instituição teve de buscar 643 candidatos autodeclarados negros ou pardos no vestibular tradicional que, inicialmente, não teriam conquistado as vagas apenas pela pontuação obtida.
Por causa disso, 643 candidatos que não se encaixavam no critério de cotas raciais tiveram de dar lugar para que autodeclarados negros ou pardos entrassem na universidade, a fim de que a cota de 40% pudesse ser completada.

Baixo desempenho
Houve duas fases tanto no vestibular tradicional quanto no para alunos da rede pública. Na primeira, foram eliminados todos os candidatos que não conseguiram o mínimo de 40% de acerto nas provas.
A segunda fase, com provas discursivas, não era eliminatória. É por isso que, em alguns cursos, estudantes conquistaram a vaga apesar de terem feito apenas quatro pontos sobre um total de 110 -caso de engenharia civil e ciências biológicas.


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