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EDUCAÇÃO
Entre os inscritos com direito ao benefício, porém, há candidatos que seriam aprovados mesmo sem a reserva de vagas
Só 36,6% entram na Uerj fora das cotas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No primeiro vestibular com sistema de cotas no Brasil, apenas
36,6% dos alunos aprovados na
Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro) não preencheram
nenhum dos dois critérios de reserva de vagas.
Há dois critérios de cotas valendo para o vestibular da instituição. Um reserva 50% das vagas
para alunos da rede pública, enquanto o outro estabelece que
40% dos aprovados têm de ser autodeclarados negros ou pardos.
Apesar de apenas 36,6% não se
encaixarem em nenhuma cota, isso não significa que os demais
(63,4%) entraram na universidade apenas porque foram beneficiados pela reserva de vagas. Alguns alunos que preenchiam pelo
menos um dos dois critérios das
cotas se classificariam mesmo que
não houvesse o benefício.
Daniel Fernandes, 25, primeiro
colocado no curso de medicina, é
um dos que se inscreveram pelo
sistema de cotas, mas seria aprovado mesmo no vestibular tradicional. Ele se declarou negro e estudou em escola pública.
A Uerj não fez o cálculo de
quantos estudantes aprovados
entraram única e exclusivamente
por causa das cotas, ou seja, não
conseguiriam a vaga se o governo
do Estado não tivesse determinado a reserva de vagas para negros,
pardos e alunos da rede pública
nas universidades estaduais do
Rio de Janeiro.
A instituição divulgou, no entanto, que pelo menos 643 candidatos (13% do total) conseguiram
a vaga porque se declararam negros ou pardos, ou seja, eles não
conseguiriam a vaga se não houvesse a cota racial.
Duas variáveis
Isso porque a universidade precisava preencher as duas cotas.
Primeiramente, a Uerj se preocupou em fazer dois vestibulares separados, mas com o mesmo nível
de dificuldade. Um, para o qual
foi reservada metade das vagas,
foi exclusivo para alunos da rede
pública. O outro era destinado
aos que não se enquadravam no
critério de cotas da rede estadual.
O problema era que, além de reservar metade das vagas para estudantes da rede pública, era preciso também cumprir a lei que garante 40% das vagas para negros e
pardos.
A primeira tentativa da Uerj foi
preencher o critério de reserva de
vagas para negros e pardos entre
os alunos que se declararam assim e que também se encaixavam
no critério da rede pública ou que
já haviam conseguido notas suficientes para passar no vestibular
tradicional.
Como não foi possível preencher todas as vagas para negros e
pardos nesse universo, a instituição teve de buscar 643 candidatos
autodeclarados negros ou pardos
no vestibular tradicional que, inicialmente, não teriam conquistado as vagas apenas pela pontuação obtida.
Por causa disso, 643 candidatos
que não se encaixavam no critério
de cotas raciais tiveram de dar lugar para que autodeclarados negros ou pardos entrassem na universidade, a fim de que a cota de
40% pudesse ser completada.
Baixo desempenho
Houve duas fases tanto no vestibular tradicional quanto no para
alunos da rede pública. Na primeira, foram eliminados todos os
candidatos que não conseguiram
o mínimo de 40% de acerto nas
provas.
A segunda fase, com provas discursivas, não era eliminatória. É
por isso que, em alguns cursos, estudantes conquistaram a vaga
apesar de terem feito apenas quatro pontos sobre um total de 110
-caso de engenharia civil e ciências biológicas.
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