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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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AMBIENTE

Os fabricantes deveriam ter dado destinação adequada para 80 mil toneladas de pneumáticos; deram a quase cem mil

Reciclagem de pneus supera meta em 2002

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano passado, a indústria brasileira de pneumáticos conseguiu superar a meta de reciclagem de um pneu usado para cada quatro produzidos ou importados, estabelecida pela resolução 258 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), de 1999.
Os fabricantes deveriam ter dado uma destinação adequada a cerca de 80 mil toneladas de pneumáticos; deram a quase cem mil toneladas, segundo a Anip (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a quem cabe fiscalizar o cumprimento da legislação.
O esforço dos produtores, sozinho, fez com que 57% das 175 mil toneladas de carcaça que, se estima, são descartadas por ano fossem usadas em fornos de cimento no país. Nos Estados Unidos, o percentual gira em torno de 73%, ou 685 mil das 940 mil toneladas de carcaças jogadas fora por ano.
O reaproveitamento nos EUA deve ser ainda maior porque lá há uma lei que determina a utilização progressiva de pneus inservíveis na fabricação de "asfalto-borracha", uso ainda incipiente no Brasil. Por outro lado, os remoldadores brasileiros (que reformam pneus velhos) também dizem ter recolhido em 2002 quase 3,8 milhões de carcaças, que foram prioritariamente enviadas para a usina de produção de gás e óleo combustíveis da Petrobras no Paraná -o número ainda não é confirmado pelo Ibama.
"Quando a indústria quer, consegue cumprir o que manda a lei", resume o presidente da Anip, Gerardo Tommasini. O esforço envolveu toda a rede de revenda de pneus no país, ou por volta de 4.000 lojas que recebem de volta pneus usados quando fazem a troca por novos. O material é levado para "ecopontos" espalhados por quase todos os Estados. De lá, vai para centros de trituração e, depois, para as usinas de cimento -Tommasini diz que deve haver cerca de dez fornos licenciados.
No processo, envolvem-se algumas prefeituras -a do Rio de Janeiro, por exemplo, recolhe os pneus em caçambas instaladas na cidade- e governos -como é o caso do de São Paulo, que já mandou para o centro de trituração de Jundiaí (interior do Estado) quase 70 mil toneladas de pneus velhos retirados do rio Tietê pela obra de aprofundamento da sua calha.
A destinação final incorreta de pneus usados pode transformá-los em fontes de problemas ambientais e de saúde pública.
Depositados inteiros em aterros de lixo comum, ocupam um espaço já rarefeito e tendem a subir para a superfície; jogados nas vias públicas, rios e córregos, facilitam enchentes porque entopem bueiros e diminuem a capacidade de escoamento e, com o tempo, podem ainda se degradar, liberando poluentes; empilhados em quintais ou terrenos baldios, se transformam em habitat de animais que podem transmitir doenças graves como leptospirose (ratos) e dengue (mosquitos); queimados, emitem gases tóxicos.

Duplicar
Pela resolução do Conama, a meta de destinação correta neste ano duplica: é de um pneu para cada dois produzidos ou importados, ou cerca de 180 mil toneladas. Em 2004, a meta é de um para um e em 2005 passa a ser reciclar cinco pneus inservíveis para cada quatro produzidos. O desafio, porém, é encarado com otimismo.
"Se nós conseguirmos neste ano e no ano que vem, e certamente vamos conseguir, como fizemos no ano passado, não tenha dúvida de que você não vai mais ver pneus por aí", diz Tommasini.
Para isso, afirma, é necessário, entretanto, fortalecer as duas pontas do processo: a entrega, por parte dos consumidores, dos pneus velhos aos revendedores e o desenvolvimento e ampliação das possibilidades economicamente viáveis de reaproveitamento do material recolhido.


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