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SEGURANÇA
Divisão de unidades por facções criminosas atrapalha transferência de condenados que estão em delegacias e casas de custódia
No Rio, presídios têm 1.641 vagas ociosas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A interdição de celas por falta de
higiene, o atraso em obras planejadas pelo governo do Estado e a
divisão dos presídios por facções
criminosas provocaram um problema inusitado no sistema prisional do Rio: há vagas ociosas
nas penitenciárias, mas as casas
de custódia e as delegacias, que
deveriam abrigar só presos não-condenados, estão superlotadas.
Um levantamento feito pela Folha, com base em dados do Desipe (Departamento do Sistema Penitenciário), mostra que existem
1.641 vagas ociosas nos 22 presídios estaduais. Enquanto isso, as
cinco casas de custódia e delegacias têm 4.098 presos acima de sua
capacidade. Nessas prisões, de
20% a 40% dos presos já estão
condenados e deveriam ter sido
transferidos para presídios.
O projeto "Delegacia Legal", iniciado pelo ex-governador Anthony Garotinho, pretendia acabar com as carceragens nas DPs,
transferindo os presos para dez
casas de custódia. Entretanto, cinco delas não foram concluídas, e a
Polícia Civil mantém a custódia
de 6.395 presos, dos quais 1.353
são condenados.
Nas delegacias, a situação é mais
dramática. A carceragem da Polinter (Polícia Interestadual), no
centro, abriga 1.147 detentos onde
cabem 350. Na Polinter de Ricardo de Albuquerque (zona norte),
são 832 presos onde cabem 250. A
52ª Delegacia de Polícia (Nova
Iguaçu, Baixada Fluminense) tem
420 presos e comporta 200.
Nas casas de custódia, rebeliões
para exigir transferência são frequentes, já que só nos presídios
eles têm direito a visitas íntimas e
de parentes nos fins de semana e
trabalho para redução da pena.
"Eu tento transferir os condenados, mas o Desipe alega sempre
que faltam vagas. Por causa da superlotação, as celas não fecham e
sou obrigado a manter os presos
no pátio", disse o delegado Jader
Amaral, diretor da Polinter.
O Desipe (Departamento do
Sistema Penitenciário) alega que a
maioria das vagas não é preenchida por causa da interdição de celas e do atraso em reformas. O
presídio Hélio Gomes (centro),
projetado para receber 1.060 presos, abriga 638 porque duas galerias estão interditadas pela Vara
de Execuções Penais, por falta de
condições de higiene.
Outra questão é a divisão dos
presídios por facção criminosa,
CV (Comando Vermelho) ou TC
(Terceiro Comando). Mesmo que
um detento não pertença a uma
delas, ele é enquadrado segundo
seu local de moradia. "Você obriga um preso sem facção a criar laços de dependência com líderes
criminosos", disse Marcelo Freixo, presidente do Conselho da
Comunidade, que fiscaliza e atua
na administração dos presídios.
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