São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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RIO

Vielas do morro da Providência formarão um corredor cultural; projeto também pretende diminuir violência no local

Favela carioca será museu a céu aberto

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

A Prefeitura do Rio quer transformar o morro da Providência, a mais antiga favela da cidade, com 106 anos, em um museu a céu aberto. A intenção é que algumas vielas do morro, que fica no centro do Rio, formem um corredor cultural capaz de atrair turistas com sítios históricos e mirantes com vista privilegiada da cidade.
A idéia da prefeitura é levar o turismo para dentro da favela, valorizar a cultura e o patrimônio histórico da comunidade, gerar renda para os moradores e diminuir a violência na região.
A tarefa é difícil. No último dia 27, traficantes mandaram o comércio no pé do morro fechar em luto pela morte de um assaltante. A falta de segurança para visitantes pode ruir o projeto do museu, mas para os organizadores, o turismo reduzirá a violência.
O museu está orçado em R$ 15 milhões, a serem pagos com recursos do Favela-Bairro (programa de reurbanização das favelas cariocas). A restauração de prédios e a criação de ateliês deverão ser pagas pela Secretaria Municipal das Culturas, mas o custo dessas obras ainda não foi divulgado.
Batizado como morro da Favela pelos soldados republicanos que lutaram na Guerra de Canudos no fim do século 19, o morro é oficialmente a primeira favela do Rio. Pesquisadores contam que favela era tanto o nome de um morro próximo a Canudos, onde os soldados se instalaram, como o de uma planta típica do sertão nordestino. É possível que os soldados tenham encontrado no morro plantas parecidas com a favela.
Os soldados construíram barracos onde morariam até que o governo lhes dessem casas. Com a demora e a espera por uma "providência", o morro foi rebatizado.
O passeio pelas ruas do "Museu a Céu Aberto" deverá começar numa escadaria de granito, construída, segundo antigos moradores, por escravos no século 19. Uma casa, no início da subida, será transformada em bilheteria.
A subida de 155 degraus leva à igreja Nossa Senhora da Penha, erguida há cerca de cem anos. Alguns metros adiante, será possível visitar o Reservatório de Lembranças. Datado de 1913, o reservatório octogonal será transformado numa instalação acústico-visual onde o visitante poderá ouvir depoimentos de moradores e ler a história da favela.
Outro ponto de visitação será a Capela do Cruzeiro, construída em 1900. Ali está a cruz trazida pelas vivandeiras - mulheres que acompanhavam os soldados de Canudos. Quatro mirantes serão construídos, um deles com uma visão de 360º do Rio.
As três pedreiras do morro deverão receber iluminação especial e algumas casas serão "congeladas", ou seja, a prefeitura quer desapropriá-las e comprar parte de seu mobiliário, para que o turista saiba como é um típico barraco.
O museu está incluído no Célula Urbana, programa da prefeitura de desenvolvimento e redução da pobreza de favelas. Há três anos, o programa fez um projeto piloto na favela do Jacarezinho (zona norte), onde arquitetos alemães da Fundação Bauhaus - escola modernista- reformaram casas.



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