São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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100 DIAS

Segundo pesquisa Datafolha, as peruas recebem a melhor avaliação em quesitos como rapidez, conforto e itinerários

Aprovação a lotação cria dilema para Marta

Caio Guatelli/Folha Imagem
Lotação chega ao largo 13 de Maio (zona sul); serviço é considerado melhor do que o de ônibus


DA REDAÇÃO

Para a prefeitura, um problema a ser combatido. Para a maioria da população, um sistema que funciona e que deve ser mantido. Quando o assunto é o sistema de lotações em São Paulo, há um desencontro entre a política oficial e a opinião pública.
De acordo com pesquisa Datafolha, estão em alta os índices de utilização das peruas -que majoritariamente operam na clandestinidade- e de satisfação dos usuários. Dos entrevistados no último dia 3 deste mês, 24% citaram as lotações entre os meios de transporte que costumam utilizar.
Na avaliação dos diferentes meios de transporte, a taxa de aprovação das peruas (44%) só perde para a do metrô (75%), tradicional campeão de satisfação.
Na comparação direta com os ônibus, as peruas recebem a melhor avaliação em quesitos como rapidez, conforto e itinerários, segundo o levantamento.
Mas é o sistema de ônibus que a prefeitura considera prioritário -e, para garantir sua viabilidade econômica, a única saída é acabar com a sangria de passageiros e de recursos provocada pela concorrência com as peruas.
A intenção é que, das aproximadamente 15 mil peruas existentes atualmente, sobrem apenas 4.042 regularizadas.
A quantidade está prevista em lei aprovada pela Câmara no ano passado e na licitação que está em preparação e que será concluída ainda este ano.
Para compensar um possível desgaste provocado pela redução de lotações, a prefeitura terá de investir na melhora dos ônibus.
Em relação ao setor, a meta da gestão Marta Suplicy é aumentar de 4 para 24 a quantidade de corredores na cidade.
Nos primeiros cem dias de governo petista, as ações da Secretaria dos Transportes se voltaram todas para esse setor: colocação de 40 seguranças dentro dos ônibus, negociação de R$ 230 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para construir corredores e recuperação do corredor Celso Garcia, na zona leste, para reduzir o tempo das viagens.

Tendências
O índice de utilização das lotações voltou a subir na última pesquisa, depois da abrupta queda ocorrida entre fevereiro e abril do ano passado (de 24% para 14%, segundo levantamentos feitos também pelo Datafolha).
A queda ocorreu em um momento de "guerra" entre a Prefeitura de São Paulo e perueiros, ainda na gestão do então prefeito Celso Pitta (PTN).
Em resposta ao reforço na repressão às lotações clandestinas, perueiros fizeram protestos violentos, em que não faltaram incêndios e apedrejamentos de ônibus, principalmente na zona sul de São Paulo.
Segundo a pesquisa, os percentuais de utilização das peruas são maiores nas áreas periféricas da cidade.
Nas regiões centro e oeste de São Paulo, onde as pessoas andam mais de metrô e de carro, os usuários de lotação são apenas 5% e 11%, respectivamente.
Entre os entrevistados com renda familiar de até dez salários mínimos, os que utilizam as peruas chegam a 28%. O índice cai para 9% entre os que ganham mais de 20 salários mínimos.
Nada menos que 86% dos entrevistados afirmaram já ter utilizado ao menos uma vez o serviço de lotações. Em fevereiro do ano passado, o índice era de 79%.
Entre os que se declaram usuários, 32% afirmam que tomam lotações "sempre" -no ano passado, eram 28%. Outros 36% o fazem "de vez em quando", e 31% usam o serviço "raramente".

Comparações
Para 49% dos entrevistados, as peruas são mais confortáveis do que os ônibus. Outros 29% acham o contrário.
No quesito "itinerários", as lotações são consideradas melhores por 56%. É no item rapidez que as peruas levam a maior vantagem: 84% contra 6%.
Os ônibus só se destacam quando o termo de comparação é a segurança. Apenas 11% acham que as peruas são mais seguras, e 65% pensam o contrário.
Em relação à conservação dos veículos, 36% acham que as peruas são melhores, e 33% preferem os ônibus.
Houve uma leve melhora da posição das peruas em relação ao ano passado, quando os índices eram de 33% e 34%, respectivamente.
A idade média da frota de ônibus na cidade é de 8 anos. Desde 98, apenas 50 veículos novos entraram em circulação, em uma frota de cerca de 10 mil.

Metodologia
O Datafolha ouviu 1.538 pessoas no último dia 3. O universo da pesquisa abrangeu moradores de oito regiões da cidade de São Paulo com mais de 16 anos.
A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um intervalo de confiança de 95%. Isso significa que, se fossem realizados cem levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem da pesquisa.


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