São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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100 DIAS

Para o professor Jaime Waisman, da USP, a substituição de ônibus por lotações iria piorar o trânsito na cidade

Especialista liga perua a congestionamento

ADÉLIA CHAGAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da taxa de aprovação ao serviço prestado por peruas, como mostra a pesquisa feita pelo Datafolha, é uma avaliação imediatista dos entrevistados, afirmam especialistas.
"A população não imagina o que vai ocorrer, se ela ficar na mão das peruas", disse o diretor-executivo da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Ailton Brasiliense.
"O passageiro quer o melhor hoje", afirma Jaime Waisman, professor de transporte público da Escola Politécnica da USP. "Ele não quer saber se, com o tempo, haverá mais congestionamento."
"Ninguém lembra que, para substituir os 10 mil ônibus da cidade, seriam necessárias pelo menos 70 mil peruas", afirma.
Waisman e Brasiliense afirmam que a lotação obteve boa avaliação nos itens velocidade e itinerário porque proporciona aos passageiros o que os ônibus não podem oferecer. Para eles, as peruas mudam o trajeto quando há congestionamento e ganham velocidade.
Eles fazem uma comparação de tarifas. O ônibus custa R$ 1,15, e o passageiro nem sempre consegue um lugar para sentar. Já a lotação custa menos, R$ 1,00 por um lugar em uma poltrona.
Os ônibus foram mais bem avaliados do que as peruas num único item, o da segurança. Para os dois especialistas, isso pode estar ligado a uma fiscalização mais intensa, realizada periodicamente, reforçando a impressão de que as peruas são inseguras.
"Mas basta a fiscalização se abrandar, conforme ocorreu a partir do segundo semestre do ano passado, para as peruas voltarem a ser procuradas", afirma o professor Waisman.
Para os perueiros, a boa avaliação deve-se aos investimentos que foram feitos, visando a concorrência realizada no ano passado (e cancelada pela administração petista).
"Cerca de 80% das Kombis foram substituídas por vans com ar-condicionado e bancos reclináveis", disse o presidente da Cooper Pam, que tem 560 associados, Luiz Carlos Pandora.
Para o presidente da Coperpeople, Francisco Mola Neto, a avaliação melhorou porque, com o desemprego, "muitas pessoas tiveram de deixar o carro e, ao comparar os ônibus com as peruas, acabaram preferindo as lotações".
Neto e Pandora concordam que a insegurança da população em relação às peruas deve-se à clandestinidade de parte do serviço. "Quando houver regularização, isso acabará", disse Neto.


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