São Paulo, domingo, 15 de abril de 2001

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SOBRE DUAS RODAS

Dados do Detran mostram que, nos últimos cinco anos, crescimento da frota de motocicletas em SP foi de 10%

Número de acidentes com motos sobe 73%

MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de acidentes com motos em São Paulo está crescendo numa velocidade superior à do aumento da frota de motocicletas.
Em cinco anos -de 1996 a 2000-, houve um crescimento de 73,2% no número de acidentes com motos na cidade -subiu de 8.208 para 14.220, segundo o CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito). Nesse mesmo período, a frota aumentou 10,3%, de acordo com o Detran.
Em 1996, houve um acidente para cada 35 motos em circulação. Apesar do número de mortes ter se mantido estável nos dois últimos anos, no ano passado a média aumentou para um acidente a cada 22,3 motocicletas.
Embora não existam estatísticas específicas de acidentes com motoboys, especialistas em trânsito costumam citá-los em primeiro lugar quando o assunto é acidente de trânsito.
Falta de qualificação -a profissão não é regulamentada- e características inerentes à atividade -a rapidez na entrega é uma exigência de empresas e clientes- acabam resultando em imprudência no trânsito.
"Socorremos, em média, cinco acidentes por dia envolvendo motoboys", diz o psicólogo Salomão Rabinovich, diretor do Centro de Psicologia Aplicada ao Trânsito e presidente da Associação das Vítimas de Trânsito.
Para o presidente do Instituto de Segurança do Trânsito, Roberto Scaringella, a moto é um meio de transporte de altíssimo risco e não há treinamento adequado dos motociclistas, que acabam fazendo malabarismos no trânsito.
Scaringella e Rabinovich criticam o veto ao artigo 56 do Código de Trânsito Brasileiro, que proibia o tráfego de motos no espaço entre duas fileiras de carros. "Isso (o veto) tornou legal uma postura altamente perigosa e possibilitou um aumento no número de acidentes", diz Scaringella.
Na justificativa do veto, assinada pelo presidente Fernando Henrique e enviada ao Senado, o governo afirmou que a proibição afetaria a "agilidade" das motos.
"Ao proibir o condutor de motocicletas e motonetas a passagem entre veículos de filas adjacentes, o dispositivo restringe sobremaneira a utilização desse tipo de veículo que, em todo o mundo, é largamente utilizado como forma de garantir maior agilidade de deslocamento", diz o documento.

Multas
Para Scaringella, a falta de fiscalização adequada também pode estar contribuindo para um aumento no número de acidentes. "Uma fiscalização intensa gera, no mínimo, uma multa por veículo a cada ano."
Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de 1996 a 2000, houve um aumento de 79,8% no número de multas emitidas contra motociclistas. O número, embora alto, não foi suficiente para conter o aumento dos acidentes.
"O Código de Trânsito Brasileiro tem falhas graves em relação a motos e requer treinamento e capacitação do corpo de fiscalização para funcionar direito."

Capacete
Para Rabinovich, as principais causas do aumento dos acidentes com motos são a ineficiência do Código de Trânsito Brasileiro, que entrou em vigor em 1998, e a falta do que chama de "cultura para duas rodas" no Brasil.
"Existe uma distância da lei em relação à realidade, porque o código é feito por políticos e não por especialistas. Se a lei não pega, o código fica desmoralizado, e a situação cada vez pior."
Para os motociclistas que reclamam do calor como argumento para não usar equipamento de proteção, a alternativa para o capacete tradicional é o aberto (sem a viseira e a proteção do queixo).
O campeão sul-americano de motociclismo de 1950, Edgar Soares, 72, diz que prefere o capacete aberto porque facilita a percepção do som e melhora a visibilidade.
"Acho que a polícia deveria usar o capacete aberto. O fechado não permite que se enxergue direito."


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