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SOBRE DUAS RODAS
Dados do Detran mostram que, nos últimos cinco anos, crescimento da frota de motocicletas em SP foi de 10%
Número de acidentes com motos sobe 73%
MELISSA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O número de acidentes com
motos em São Paulo está crescendo numa velocidade superior à do
aumento da frota de motocicletas.
Em cinco anos -de 1996 a
2000-, houve um crescimento
de 73,2% no número de acidentes
com motos na cidade -subiu de
8.208 para 14.220, segundo o
CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito). Nesse mesmo período, a frota aumentou
10,3%, de acordo com o Detran.
Em 1996, houve um acidente
para cada 35 motos em circulação. Apesar do número de mortes
ter se mantido estável nos dois últimos anos, no ano passado a média aumentou para um acidente a
cada 22,3 motocicletas.
Embora não existam estatísticas
específicas de acidentes com motoboys, especialistas em trânsito
costumam citá-los em primeiro
lugar quando o assunto é acidente
de trânsito.
Falta de qualificação -a profissão não é regulamentada- e características inerentes à atividade
-a rapidez na entrega é uma exigência de empresas e clientes-
acabam resultando em imprudência no trânsito.
"Socorremos, em média, cinco
acidentes por dia envolvendo motoboys", diz o psicólogo Salomão
Rabinovich, diretor do Centro de
Psicologia Aplicada ao Trânsito e
presidente da Associação das Vítimas de Trânsito.
Para o presidente do Instituto
de Segurança do Trânsito, Roberto Scaringella, a moto é um meio
de transporte de altíssimo risco e
não há treinamento adequado
dos motociclistas, que acabam fazendo malabarismos no trânsito.
Scaringella e Rabinovich criticam o veto ao artigo 56 do Código
de Trânsito Brasileiro, que proibia o tráfego de motos no espaço
entre duas fileiras de carros. "Isso
(o veto) tornou legal uma postura
altamente perigosa e possibilitou
um aumento no número de acidentes", diz Scaringella.
Na justificativa do veto, assinada pelo presidente Fernando
Henrique e enviada ao Senado, o
governo afirmou que a proibição
afetaria a "agilidade" das motos.
"Ao proibir o condutor de motocicletas e motonetas a passagem
entre veículos de filas adjacentes,
o dispositivo restringe sobremaneira a utilização desse tipo de
veículo que, em todo o mundo, é
largamente utilizado como forma
de garantir maior agilidade de
deslocamento", diz o documento.
Multas
Para Scaringella, a falta de fiscalização adequada também pode
estar contribuindo para um aumento no número de acidentes.
"Uma fiscalização intensa gera,
no mínimo, uma multa por veículo a cada ano."
Segundo dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), de 1996 a 2000, houve um aumento de 79,8% no número de
multas emitidas contra motociclistas. O número, embora alto,
não foi suficiente para conter o
aumento dos acidentes.
"O Código de Trânsito Brasileiro tem falhas graves em relação a
motos e requer treinamento e capacitação do corpo de fiscalização
para funcionar direito."
Capacete
Para Rabinovich, as principais
causas do aumento dos acidentes
com motos são a ineficiência do
Código de Trânsito Brasileiro,
que entrou em vigor em 1998, e a
falta do que chama de "cultura
para duas rodas" no Brasil.
"Existe uma distância da lei em
relação à realidade, porque o código é feito por políticos e não por
especialistas. Se a lei não pega, o
código fica desmoralizado, e a situação cada vez pior."
Para os motociclistas que reclamam do calor como argumento
para não usar equipamento de
proteção, a alternativa para o capacete tradicional é o aberto (sem
a viseira e a proteção do queixo).
O campeão sul-americano de
motociclismo de 1950, Edgar Soares, 72, diz que prefere o capacete
aberto porque facilita a percepção
do som e melhora a visibilidade.
"Acho que a polícia deveria usar
o capacete aberto. O fechado não
permite que se enxergue direito."
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