São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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PM do Rio tem 2º menor salário do país

Policial militar fluminense em início de carreira recebe R$ 874, valor superior apenas aos R$ 850 pagos por Alagoas

DF tem maior remuneração inicial, de R$ 2.900, e SP, que tem o maior Orçamento e paga R$ 1.240, está em 12º no ranking feito pela Folha

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Estado do Rio de Janeiro, que tem feito insistentes apelos ao governo federal pelo auxílio das Forças Armadas no combate à violência, paga hoje o segundo menor salário aos policiais militares do país.
Levantamento feito pela Folha dos salários dos PMs em início de carreira mostra que o Rio só paga mais que Alagoas, um dos Estados mais pobres do Brasil. Os PMs do Rio ganham R$ 874 (no Estado, o menor salário de professor é de R$ 862) e os de Alagoas, R$ 850.
O Distrito Federal tem a melhor remuneração inicial (R$ 2.900). São Paulo, Estado com o maior Orçamento e detentor da terceira renda per capita, está apenas em 12º no ranking.
O mais baixo rendimento de um soldado paulista é de R$ 1.240 (o professor recebe R$ 1.144), menor que o de Estados como Amapá (R$ 1.770), Amazonas (R$ 1.546), Paraná (1.700) e Rondônia (R$ 1.251) .
O cruzamento do ranking salarial com o de homicídios contradiz o senso comum de que há relação direta entre baixos salários dos policiais e altos índices de criminalidade.
Entre aqueles com os maiores índices de homicídios, segundo o Mapa da Violência, divulgado em fevereiro, estão tanto o Distrito Federal -5º em assassinatos e campeão salarial- como Pernambuco -1º em homicídios e 3º pior salário.
Autor de cinco livros sobre segurança, o coronel da PM do Rio Jorge da Silva diz que comparar violência e salários de policiais, além de inadequado, tira a discussão do foco. ""Um fator [rendimento] não desencadeia o outro. Poderia, sim, aumentar a violência do policial, pois ele trabalha estressado, intranqüilo. Mas o que a sociedade precisa decidir é que tipo de relação pretende manter e que tratamento quer dar à polícia."
O presidente da Associação dos Militares Estaduais do Rio, coronel Paulo da Rocha Monteiro, afirma que que os baixos salários são determinantes para a insatisfação da tropa. ""São policiais que, obviamente, trabalham intranqüilos, o que pode afetar a produtividade."

Preocupação
O Rio do governador Sergio Cabral (PMDB) ficará em situação ainda mais comprometedora caso Alagoas cumpra a ordem judicial, de março, que determina reajuste de 88,5% para cabos e soldados. Passaria, assim, para o último lugar.
Em conversas reservadas, autoridades fluminenses dizem estar preocupadas com o alto índice de envolvimento de policiais com a criminalidade. Afirmam também que muitos policiais têm feito "corpo mole" em razão dos baixos salários.
Para o coronel Monteiro, a presença da Força Nacional no Estado, outro pedido do governo, gera ainda mais insatisfação, pois coloca lado a lado PMs de outros Estados e os do Rio, que ganham bem menos. ""Nossos PMs ficam incomodados.'
É dentro desse panorama que o governo do Rio já enfrenta pressões da PM por reajuste de 54%. O governo, porém, está amarrado à falta de verba. Do R$ 1,34 bilhão disponível para a PM no Orçamento deste ano, R$ 1,16 bilhão está comprometido com salários, situação recorrente no país.
A Secretaria de Segurança do Rio afirmou que está negociando com os policiais, mas que, com só três meses de governo, não foi possível avaliar qual é a margem do Orçamento para atender aos pedidos. A Secretaria de Gestão de São Paulo, que gerencia a folha de pagamento dos servidores, não quis falar dos valores pagos à polícia.


Colaboraram a Sucursal do Rio, a Agência Folha e a Sucursal de Brasília


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