São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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PM que salvou bebê recebe R$ 1.600 mensais

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em setembro, o 3º sargento Paulo Sérgio Fernandes, 38, pagou a última das 36 prestações de seu Corsa 1996. Com salário líquido em torno de R$ 1.600 e morando de aluguel com mulher e duas filhas, o carro popular é o único bem que adquiriu em 16 anos na Polícia Militar do Rio.
"É preciso ter muito amor à profissão. Mas ser policial é um sonho de infância que eu realizei. E o que adianta receber dinheiro de corrupção e não conseguir pôr a cabeça no travesseiro? Eu durmo em paz", afirma ele, que ainda ganha R$ 400 mensais como segurança de um banco, "bico" permitido no Estado do Rio.
Fernandes, lotado há 14 anos no 34º Batalhão da Polícia Militar (Magé, na Baixada Fluminense), orgulha-se especialmente do que viveu em 13 de março de 2005. O ainda cabo foi acionado após uma denúncia de que um bebê estava abandonado num matagal do distrito de Piabetá. Encontrou a criança aos prantos e sendo picada por formigas.
"Aí as lágrimas desceram. Lembrei das minhas filhas... Como deixar um ser desprotegido daquele jeito? Não é mãe quem faz isso, não tem perdão."
A pedido de Fernandes, um farmacêutico doou fraldas e mamadeiras. Em seguida, o bebê de quatro meses foi levado para um hospital, onde se recuperou. Mas o policial ficou tão envolvido com o menino que pensou em adotá-lo. "Era preciso entrar na fila e aí desanimei. Mas nunca me afastei dele."
O casal que o adotou deu-lhe o nome de Caio. "Acho que Deus usou o Fernandes para pôr o Caio no nosso caminho. Minha vida é esse menino", emociona-se o dono de farmácia Róbson Artuique, 31, que era o primeiro na fila de adoção.
Na sexta-feira, a pedido da Folha, o sargento foi à casa de Caio, que está com dois anos e meio. Antes mesmo de posar para fotos, já começou a brincar com o menino.
"Encontrar o Caio foi o momento mais importante da minha carreira. Até porque os tiroteios são o meu dia-a-dia, mas ver um bebê num matagal não é."


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