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Lojas usam cores berrantes contra restrição a logomarca
Reação visual à lei Cidade Limpa surge com fachadas coloridas e inovações geométricas; para diretora da Emurb, "é sensacional"
Primeira resposta veio do
entorno da luxuosa Oscar
Freire, mas linguagem já
começa a migrar para o
comércio popular de SP
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito mandou, a cidade
se limpou, e a primeira reação
visual à proibição de outdoors e
à restrição de fachadas já surge.
Em cores berrantes e padronizações das formas geométricas,
São Paulo encontrou a nova linguagem para lojas e bancos dizerem que estão ali.
Pela opulência da região,
uma das mais caras da cidade, a
primeira resposta veio do entorno da Oscar Freire, a rua do
comércio de luxo nos Jardins.
Quem freqüenta o lugar sabe
(porque vê) que, com a maioria
dos letreiros nas medidas estabelecidas por lei, as lojas uniformizaram modelos e padrões
para que sejam imediatamente
associados pelas consumidoras
paulistanas que vivem da fama,
do corpo ou do marido.
É o caso da Miss Sixty, na esquina da rua da Consolação
com a Oscar Freire. Da Galeria
Melissa, logo ali adiante, na
próxima quadra. Da Iódice,
quase em frente. E também das
Pernambucanas, na esquina da
rua Augusta.
"O que há de mau nisso? É
sensacional", diz Regina Monteiro, diretora de projetos e paisagem urbana da Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) de São Paulo.
E do luxo da Oscar Freire, as
cores e padronizações visuais
começam a migrar para o comércio popular da José Paulino
e do eixo da 25 de Março, talvez
os mais famosos do país.
Colorido bancário
Com dinheiro, os grandes
bancos de varejo adaptaram
suas fachadas para não perder a
atenção dos clientes. Em cores
fortes comumente associadas
às suas marcas (laranja para o
Itaú, vermelho para o Bradesco, azul para o Citibank, amarelo para o Banco do Brasil), as
agências foram remodeladas
para pasteurizar uma área externa monocromática.
"A reação vai ser estridente,
com lojistas pintando fachadas
de maneira tosca. O resultado
vai ser tão nefasto quanto os
outdoors. A arquitetura tem de
dar conta da proibição, com
identificação de símbolos visuais mais fortes", afirma o arquiteto Marcelo Morettin.
Arquitetura
De volta à Oscar Freire, outra
saída encontrada pelos lojistas
(esta mais discreta) é a valorização da arquitetura dos prédios, em lugar da programação
visual exagerada. A medida, dizem urbanistas ouvidos pela
Folha, cria signos que associam o lugar àquela marca.
Mais: as lojas também têm
aumentado as fachadas, com
concreto ou acrílico, na crença
equivocada de que os letreiros
são proporcionais à área externa. A rigor, pela lei Cidade Limpa, elas não podem fazer esse
tipo de alteração para tentar
burlar as restrições.
"É preciso encontrar um novo símbolo visual, novos referenciais da identidade da cidade. A publicidade vai encontrar
novos meios de comunicar suas
necessidades. A identificação
precisa ser redescoberta", avalia Gilberto Belleza, presidente
do Instituto de Arquitetos do
Brasil.
"Uma péssima cultura urbana, de levar vantagem em tudo,
conduziu São Paulo a ter uma
sujeira visual intensa. Todas essas manifestações visuais ajudaram a poluir o espaço da cidade", completa o arquiteto Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake.
Futuro
Sem poder fiscalizar o que
era legal e o que estava irregular, a Prefeitura de São Paulo
decidiu montar uma operação
para banir toda a propaganda
irregular da cidade.
No futuro, quando a cidade
estiver descortinada de anúncios, São Paulo pretende estabelecer novas regras e permitir
a publicidade em algumas zonas limitadas, segundo a Folha
apurou (leia texto ao lado).
"Que se danem os publicitários que perderam dinheiro. Isso faz parte da evolução cultural da cidade", diz, de maneira
contundente, o arquiteto Décio
Tozzi, que, entre outros, projetou o parque Villa-Lobos, na
zona oeste da capital.
E completa: "A rua São Bento [na região central de SP], que
é um repositário da arquitetura
mais pura da cidade de São
Paulo, estava coberta por fios e
chapas metálicas, apelos de
péssima categoria. A arquitetura é um fato cultural, não pode
ser escondida."
Na avaliação de vários urbanistas, medidas drásticas como
o Cidade Limpa têm efeito
multiplicador; e com a valorização do espaço público, moradores criam uma identificação
com a cidade e se sentem socialmente responsáveis pela
preservação do ambiente em
que vivem.
Missão aparentemente tão
impossível que o prefeito Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL)
teve de remover pessoalmente
outdoors nas ruas.
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