São Paulo, quarta-feira, 15 de abril de 2009

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GILBERTO DIMENSTEIN

Central da Augusta


Essa mistura e o acaso acabaram levando San a virar blogueiro para contar o que acontece no Baixo Augusta


AOS 17 ANOS , San Piciarelli mudou-se de São Paulo para Portugal, onde tentou abrir um café. Não deu certo. Conseguiu um emprego de guia turístico na Espanha. Sem conhecer a Espanha. Fez várias incursões pelo norte da África. Cursou psicologia em Londres: entre os mais diferentes "bicos" na Inglaterra, especializou-se em psicologia do consumidor e, depois, estudou psicanálise. Ele imagina que, agora, aos 34 anos, encontrou um lugar -ou, no caso, uma rua- para chamar de seu: o chamado Baixo Augusta, entre a avenida Paulista e a praça Roosevelt.
"Adoro ver uma senhora tomando chá no mesmo espaço em que, em outras horas, é frequentado por emos, punks, trabalhadores, boêmios, prostitutas e universitários." Essa mistura e o acaso acabaram levando-o a virar blogueiro para contar o que acontece por ali -e, assim, virou ao mesmo tempo escritor e personagem.

 


San estava teclando num café em seu laptop e, ao seu lado, um desconhecido atualizava um blog sobre os bares da rua Augusta. Ficou interessado e perguntou se ele não gostaria de ampliar os conteúdos. Proposta aceita -afinal, não existe hoje, na cidade, um lugar que reúna em tão pouco espaço tantas tribos diferentes, funcionando 24 horas por dia. Daí que sai a velhinha do chá e, sem traumas, entram os emos e punks.
Acaba de ser inaugurada uma padaria exclusivamente vegetariana e um antigo açougue foi recuperado para virar restaurante e, talvez por um espírito de compensação, seu cardápio não leva carne. Garçons de uma casa noturna vestem roupas de brechó encontradas pelo estilista Marcelo Sommer. Nesta semana, abriu mais um teatro de apenas 150 m2 na praça Roosevelt.
 


Personagens, portanto, não faltam. Por isso, daquela conversa, San saiu parceiro do desconhecido (Artur Serra), que fazia o blog com uma amiga (Mila Molina). O projeto ampliou-se para virar site (centraldaaugusta.com.br). "Não dá para viver bem, escrever bem e xeretar bem sem estar em um lugar como o meu bairro."
Nessa função de cronista e repórter, San está escrevendo histórias sobre a veterana prostituta que só atende aos clientes em casa e sobre um idoso que, periodicamente, reúne amigos para ler poesias, como se o tempo não tivesse passado. Em seus projetos, está um ensaio fotográfico sobre as pessoas que passam e trabalham no Conjunto Nacional. "Retrato uma rua que serve tanto para o crime como para a justiça, para o aconchego familiar e para a balada."
Para quem fez tanta coisa diferente em lugares tão diversos -de um guia de um país que não conhecia à psicanálise, passando pela psicologia do consumidor-, certamente dá para se sentir em casa na Augusta.

gdimen@uol.com.br


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