São Paulo, quarta-feira, 15 de maio de 2002

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URBANIDADE

Grafiteiros entram na USP

Vincenzo Scarpellini
BEXIGA, VILA ITORORÓ O acaso quebra, o tempo muda, diz o escritor, mas qual dos dois terá feito o destino da primeira vila de São Paulo -que, construída em 1922 por um tecelão português, causou polêmica porque tinha um casarão de forma excêntrica e 37 casas menores, além da primeira piscina particular da cidade-, hoje não mais que um fantástico cortiço, moradia de muitas famílias? (VINCENZO SCARPELLINI)

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A Universidade de São Paulo começou, nesta semana, a preparar a primeira cooperativa brasileira de grafiteiros, tradicionalmente desorganizados, alguns deles ex-pichadores. A maioria deles nem sequer imaginava que aquela arte poderia tornar-se uma profissão -até porque vivem perseguidos pela polícia e são encarados como marginais, obrigados, muitas vezes, a fazer suas intervenções de madrugada.
A experiência será realizada com 18 grafiteiros, apoiados pela Incubadora de Cooperativas, da USP, que, com alunos e professores de diversas faculdades, prestarão assessoria gratuita a quem quiser transformar a arte nos muros numa fonte de renda.
Grafiteiro há mais de quatro anos, Paulo Ito, 24, formado em artes plásticas pela Unicamp, aposta: "A cooperativa, com habilidade em marketing e noções de administração, além de usar ferramentas como mala-direta para a oferta de serviços e recursos da internet, vai valorizar as intervenções." Dali podem surgir subprodutos como camisetas, copos, jogos americanos, quadros estilizados, pôsteres, além das fachadas. Ito, no mês passado, foi uma das estrelas de um projeto do badalado arquiteto João Armentano, que fez do hall de um loft uma galeria de grafitagens.
O patrono da parceria é Paul Singer, professor da Faculdade de Economia da USP e coordenador acadêmico da Incubadora de Cooperativas. "A cooperativa está a serviço não só de seus sócios mas também da coletividade. Não é uma empresa, está mais próxima de uma família."
Já existem chances concretas de negócios. O empresário João Paulo Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, encantou-se com a possibilidade de unir arte pública, educação e recuperação urbana. Comprometeu-se a preparar uma galeria exclusivamente para grafiteiros e ofereceu gôndolas dos supermercados Pão de Açúcar, onde seriam vendidos produtos com os desenhos.
Imagens à disposição não faltam. Os grafiteiros estão em fase de planejamento da maior intervenção de grafite já feita em São Paulo. Orientados por professores de artes plásticas e designers, querem entregar até o fim deste ano um desenho que ocupará três quilômetros nos muros, hoje abandonados e pichados, da avenida Sumaré, em fase de recuperação pela comunidade em parceria com a prefeitura. O projeto ambicioso já saiu do papel: numa ponta da avenida, sob o Instituto Goethe, 14 grafiteiros entregaram uma obra conjunta que orna um muro de 280 m2.

E-mail - gdimen@uol.com.br



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