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INFÂNCIA
Artur Kalichman, do Programa de DST-Aids de São Paulo, afirma que é desaconselhável a segregação das crianças
Para especialistas, decisão é retrocesso
DA REPORTAGEM LOCAL
A decisão da Justiça de Santos
separando crianças soropositivas
das soronegativas recua o debate
sobre a Aids para uma década
atrás, afirmam especialistas. Para
o Judiciário e o Ministério Público, as transferências priorizaram
a saúde da criança.
A decisão também revela uma
preocupação com o risco de contágio entre as crianças. Brincando
-ou brigando entre si- elas poderiam se ferir.
"Na verdade, todas as crianças,
em caso de acidente, devem receber os cuidados universais", afirma Artur Kalichman, coordenador do Programa Estadual de
DST-Aids de São Paulo.
Em caso de queda, corte ou
mordida, o local deve ser lavado
com muita água e sabão. "Um
adulto sempre estará por perto
para tomar esses cuidados", afirma Kalichman.
Da mesma forma que os cuidados devem ser os mesmos, os
equipamentos e a infra-estrutura
para crianças soropositivas não
precisam ser diferentes. "Se fosse
assim, toda família com uma
criança soropositiva teria que ter
uma casa especial", diz o médico.
O tratamento é oferecido pela
rede pública de saúde, para onde
as crianças são levadas regularmente ou para onde vão quando
sentem febre ou estão com diarréia. "Só seria diferente se o abrigo
atendesse crianças doentes, que
necessitam de cuidados diários de
enfermagem, e optasse por um
tratamento na própria casa."
O mesmo vale para as creches e
as escolas. "A política de saúde incentiva o relacionamento das
crianças, contrariando qualquer
segregação entre elas", afirma.
Caso o abrigo não ofereça condições adequadas para crianças
com HIV, também não estaria
oferecendo condições para menores que não têm o vírus, dizem
os especialistas. Nesse caso, a casa
não poderia receber crianças,
mesmo as mais sadias.
A discussão relembra o caso de
Sheila Cortopassi, abandonada
com HIV nos corredores do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo,
no início dos anos 90 e que foi
adotada por uma família substituta. Ao ter sua matrícula recusada
por uma escola, Sheila provocou
um debate nacional e levou à publicação de uma portaria interministerial proibindo esse tipo de
discriminação. O grande temor
dos donos da escola era o de Sheila infectar outras crianças.
Separação
Se o risco de contágio entre
crianças é praticamente inexistente, atitudes como a separação
causam danos que só mais tarde
poderão ser avaliados. "As perdas
que vinham sendo superadas aos
poucos retornam com mais força
ainda", diz Maria Teresa Zogaib,
psicóloga da Casa Vó Benedita.
Fragilizadas por serem portadoras do HIV, pelo afastamento da
família e pela perda de identidade,
crianças vítimas de separações
podem ter suas defesas reduzidas,
facilitando a ocorrência de doenças oportunistas, diz a psicóloga.
(AURELIANO BIANCARELLI)
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