São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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Famílias de policiais estão apavoradas

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Maria, 45, não dorme desde sexta-feira, quando seu marido, um policial militar, foi ferido no abdome em uma base na zona leste. Nas poucas horas em que conseguiu cochilar, na cadeira ao lado da cama em que ele segue internado, Maria teve pesadelos.
"Sonhei que metralhavam a minha família toda. Acabou a nossa paz. Assim que ele sair dessa, vou convencê-lo a mudar de vida", diz Maria, chorando. Os dois filhos do casal, de 13 e 15 anos, estão na casa de parentes no interior.
O sentimento de pavor expresso por Maria se repete nas outras famílias de policiais e guardas municipais feridos. O medo e o silêncio imperam. A maioria se recusa a dar entrevistas.
"Já imaginou se fosse com a sua família. Você tem pai ? Marido? Filho? Se tem, sabe que o momento é de luto", disparou a filha de um guarda municipal ferido na zona sul, que aguardava notícias no saguão do hospital.
O guarda não corre risco de morte, mas, por determinação da família, o hospital disse que não poderia dar informações.
O irmão de um policial ferido levemente na madrugada de anteontem e que já teve alta disse que os ataques "destruíram" o Dia das Mães das famílias de policiais. "Ninguém mais está seguro. Os bandidos conhecem os policiais, sabem onde eles moram."
A Folha tentou contato com famílias de feridos em pelo menos outros cinco hospitais públicos. Em todos eles, recebeu a informação de que os familiares não haviam autorizado a divulgação de informações sobre os feridos.
Segundo o presidente da Associação dos Cabos e Soldados da PM, Wilson Moraes, as famílias estão "apavoradas" e pediram que a entidade não divulgue nomes dos feridos nem os locais onde estão internados. "Se nem os policiais estão em segurança, imagine suas famílias. Todos estão apavorados, temendo pela vida."
Para ele, está sendo um erro o governo do Estado não aceitar ajuda federal. "Não há controle algum da situação. Mesmo com o reforço, os ataques continuam. Os policiais estão acuados."
Moraes diz que até ele está sofrendo ameaças de morte. "Cancelei duas entrevistas hoje por razão de segurança." Ele não faz idéia do número de policiais feridos. "Ninguém consegue essa informação. Nem a gente."
A mesma falta de dados atinge a Associação dos Delegados de Polícia. Segundo a assessoria de imprensa, a entidade tentou fazer uma homenagem com os nomes dos mortos e suas fotos, e os feridos, mas não obteve as informações. Espera conseguir hoje.


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