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Famílias de policiais estão apavoradas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Maria, 45, não dorme desde sexta-feira, quando seu marido, um
policial militar, foi ferido no abdome em uma base na zona leste.
Nas poucas horas em que conseguiu cochilar, na cadeira ao lado
da cama em que ele segue internado, Maria teve pesadelos.
"Sonhei que metralhavam a minha família toda. Acabou a nossa
paz. Assim que ele sair dessa, vou
convencê-lo a mudar de vida", diz
Maria, chorando. Os dois filhos
do casal, de 13 e 15 anos, estão na
casa de parentes no interior.
O sentimento de pavor expresso
por Maria se repete nas outras famílias de policiais e guardas municipais feridos. O medo e o silêncio imperam. A maioria se recusa
a dar entrevistas.
"Já imaginou se fosse com a sua
família. Você tem pai ? Marido?
Filho? Se tem, sabe que o momento é de luto", disparou a filha de
um guarda municipal ferido na
zona sul, que aguardava notícias
no saguão do hospital.
O guarda não corre risco de
morte, mas, por determinação da
família, o hospital disse que não
poderia dar informações.
O irmão de um policial ferido
levemente na madrugada de anteontem e que já teve alta disse
que os ataques "destruíram" o
Dia das Mães das famílias de policiais. "Ninguém mais está seguro.
Os bandidos conhecem os policiais, sabem onde eles moram."
A Folha tentou contato com famílias de feridos em pelo menos
outros cinco hospitais públicos.
Em todos eles, recebeu a informação de que os familiares não haviam autorizado a divulgação de
informações sobre os feridos.
Segundo o presidente da Associação dos Cabos e Soldados da
PM, Wilson Moraes, as famílias
estão "apavoradas" e pediram
que a entidade não divulgue nomes dos feridos nem os locais onde estão internados. "Se nem os
policiais estão em segurança, imagine suas famílias. Todos estão
apavorados, temendo pela vida."
Para ele, está sendo um erro o
governo do Estado não aceitar
ajuda federal. "Não há controle algum da situação. Mesmo com o
reforço, os ataques continuam. Os
policiais estão acuados."
Moraes diz que até ele está sofrendo ameaças de morte. "Cancelei duas entrevistas hoje por razão de segurança." Ele não faz
idéia do número de policiais feridos. "Ninguém consegue essa informação. Nem a gente."
A mesma falta de dados atinge a
Associação dos Delegados de Polícia. Segundo a assessoria de imprensa, a entidade tentou fazer
uma homenagem com os nomes
dos mortos e suas fotos, e os feridos, mas não obteve as informações. Espera conseguir hoje.
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