São Paulo, segunda-feira, 15 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária classificou como retórica afirmação de Cláudio Lembo

Para Mariz de Oliveira, houve desleixo

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O comando da segurança pública em São Paulo foi desleixado ao não privilegiar a investigação e a contra-informação no combate à criminalidade, afirmou ontem o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, presidente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Ele classificou com "retórica" a declaração do governador Cláudio Lembo (PFL) de que os ataques do PCC às forças de segurança do Estado eram previsíveis. "Se era previsível, tinha a obrigação de se evitar. Isso é retórica. Na verdade, o que eles [PCC] estão fazendo é banditismo, e estão fazendo porque não havia oposição [da polícia e do Estado]."
Mariz, 60, também mostrou contrariedade em relação ao Judiciário paulista, que, segundo ele, resiste à adoção de penas alternativas. Secretário de Estado da Segurança Pública em 1990, na gestão de Orestes Quércia (PMDB), Mariz, questionado pela Folha, afirmou avaliar que as ações do PCC são uma espécie de terrorismo desvinculado de ideologias e religião. Leia a seguir trechos da entrevista dada por Mariz, por telefone, à Folha.

 

Folha - Qual a avaliação do sr. em relação aos ataques promovidos pelo PCC em São Paulo?
Antonio Cláudio Mariz de Oliveira -
Entendo que houve basicamente desleixo por parte das polícias no que diz respeito a um trabalho investigatório, de inteligência, para detectar e impedir o crescimento dessas quadrilhas. Acho um verdadeiro escárnio a polícia, que quando quer trabalha de forma absolutamente correta, não ter colocado a inteligência policial, da contra-informação, para obter dados [sobre os ataques]. Quero fazer aqui uma ressalva aos esforços do secretário Nagashi. Acompanho o trabalho dele, sei que é um homem de dedicação, criatividade, mas acho que ele não conta com apoio da polícia.

Folha - A ofensiva do PCC pode ser considerada terrorismo?
Mariz de Oliveira -
Se você entender o terrorismo como uma atividade que põe em risco a segurança, sim. É um terrorismo com um modo diferente, sem aparente conotação ideológica ou religiosa.

Folha - Em entrevista ontem [anteontem], o governador Cláudio Lembo (PFL) afirmou que os ataques eram "previsíveis". Como o sr. analisa esse posicionamento?
Mariz de Oliveira -
Se era previsível, tinha a obrigação de evitar. Isso é retórica. O que eles [PCC] estão fazendo é banditismo e estão fazendo porque não havia oposição [da polícia e do Estado].

Folha - É possível dissolver o PCC e evitar o controle da facção nos presídios?
Mariz e Oliveira -
Temos que achar que é possível. Não basta achar os responsáveis [pelos ataques], é necessário planificação. Uma operação dessas não vai dar resultado amanhã, é um trabalho obstinado, com adoção de providências reais.


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