São Paulo, sexta-feira, 15 de maio de 2009

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BARBARA GANCIA

Mimadinhos


Está cheio de garotão bem mais rápido, comunicativo e inteligente esperando para sentar no cockpit


INTERESSO-ME cada vez menos pela F-1, esporte que sempre me tirou da cama de manhã, domingo sim, domingo não. Não retrocedi ao cúmulo de certos puristas, que acham que a F-1 não merece nem ao menos o status de esporte. Ora, se aquela cretinice chamada nado sincronizado e se o tiro ao prato são considerados esportes dignos de figurar nas Olimpíadas, não vejo por que o automobilismo deveria ser tratado como uma competição digna apenas de fazer a alegria das casas de apostas.
Mas de tantas regras e normas, parece até que o regulamento do Campeonato Mundial foi feito pelo governador Serra: a gasolina do treino tem de ser a da largada, é obrigatório o uso de pneu duro e pneu mole, o piloto da frente não pode fechar a porta de quem vem atrás, enfim, é uma chatice tão retumbante que, vira e mexe, eu volto a pegar no sono no meio da corrida mesmo que a disputa esteja boa.
Acontece que o que me traz ao assunto hoje não são os impasses que a categoria enfrenta a cada nova temporada, embora manchetes como a que li nesta semana: "Ferrari oficializa ameaça de abandono em 2010" mereçam uma coluna só para elas. Oficializar ameaça é quase como meio grávida ou mula sem cabeça. Meu assunto aqui hoje é um só: eu já me enchi das choramingas dos pilotos tapuias na F-1. Chega. Essa turma que vá catar coquinho na ladeira.
Em Mônaco está cheio de ladeiras, eles podem começar praticando lá mesmo, já que o próximo GP do calendário é no Principado. Eles que vão tomar ônibus lotado na Cidade Tiradentes e que enfrentem 42 paradas até chegar ao serviço todos os dias, para ver o que é bom para a tosse.
Quem ganha US$ 10 milhões ou US$ 12 milhões ao ano para fazer aquilo de que gosta não tem o direito de usar a imprensa para ficar com nhem-nhem-nhem nem de culpar a berimbela da parafuseta ou a equipe em que trabalha por sua própria falta de brilho.
No meio da crise econômica, Felipe Massa disse que não renegociaria seu salário. A F-1 corria o risco de acabar, mas ele seguia irredutível, como se fosse algum Juan Manuel Fangio. Agora está aí, comendo pedregulho no grid. Que empáfia é essa? Quantos mecânicos da Ferrari tiveram seus salários reduzidos?
Rubens Barrichello, que semanas antes do início do campeonato previa passar o ano de pantufas e roupão assistindo às corridas na frente da TV no sofá de casa, agora usa o seu site para mandar recados rancorosos, como se a culpa de Jenson Button ter ganhado quatro corridas até agora, e ele, nenhuma fosse de algum jornalista brasileiro. Acho que falo por muita gente quando digo que o público já se cansou de ouvir que o jogador encrenqueiro que ganha uma fortuna, mas não rende, tem de "redescobrir a alegria de jogar futebol".
No caso dos pilotos, de Rubens especialmente, ninguém aguenta mais esse tipo de lenga-lenga. Quem pode gastar o preço de um apartamento de luxo para alugar um jatinho para ir para o outro lado do mundo e ganhou de presente a possibilidade de fazer por mais um ano aquilo de que gosta, tem mais é de levantar as mãos ao céus e agradecer, agradecer e agradecer.
Mesmo porque, está cheio de garotão bem mais rápido, carismático, boa-pinta, engraçado, comunicativo e inteligente esperando para sentar no cockpit. Note que quem diz isso tudo é alguém que sempre o defendeu. Mas até eu agora me enchi do Barrichello.

barbara@uol.com.br

www.barbaragancia.com.br


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