São Paulo, sábado, 15 de maio de 2010

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Vaspeano nasceu, viveu e
morreu no ar

Segundo sua filha, piloto, que sobreviveu a cinco acidentes, conseguiu salvar a mulher e os filhos em 1987 ao pousar em praia de rio

Para ela, a habilidade do pai também deve ter evitado uma tragédia maior no acidente de anteontem em Manaus, em que 5 morreram

KÁTIA BRASIL
ELIDA OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA

Ele nasceu nos ares, virou piloto profissional, escapou de cinco acidentes de avião e morreu anteontem no bimotor Seneca que caiu em Manaus.
Para a filha, a habilidade do pai também deve ter evitado uma tragédia maior, pois a aeronave caiu ao lado de um colégio e a poucos metros de um conjunto de casas.
O homem em questão chamava-se Miguel Vaspeano Lepeco -nome dado justamente porque nasceu a bordo de um avião da Vasp, em 1957. "[No acidente de anteontem] Ele não caiu sobre as casas, sabia que a tragédia seria maior", diz a filha, Andréa Lepeco, 32.
Apesar do esforço do piloto, outras cinco pessoas morreram na queda do Seneca -incluindo a secretária estadual da Educação do Amazonas, Cínthia Régia Gomes do Livramento.
Segundo Andréa, em 34 anos de profissão, o paranaense de Maringá sofreu cinco acidentes no ar, sem mortes, graças à destreza adquirida em voar para garimpos na serra Pelada.
Num dos casos, o comandante Vaspeano, como era conhecido nos hangares, salvou sete pessoas: a mulher, grávida, dois filhos e mais quatro parentes.
Era o ano de 1987. A filha do piloto diz que o voo seguia de Goiânia para Itaituba (PA), onde a família morava nos anos 80. O avião sofreu uma pane na região de Maués (AM) -a mesma cidade que seria o destino da viagem de anteontem- e perdeu contato com a torre em plena selva amazônica.
A mulher do piloto, Meire de Lima Lepeco, 50, estava grávida do filho mais novo, Miguel Vaspeano Lepeco Júnior, hoje com 22. "Ele avisou pra nós que só tinha oito minutos de combustível. A gente olhava para baixo e só via água e mato. As pessoas começaram a chorar porque não sabiam nadar."
Ele não podia pousar sobre as árvores. "Mas parece que Deus olhou e apareceu uma beira de praia. Aí ele conseguiu pousar."

Paixões
Naquele avião, diz ela, estavam as paixões do pai: a aviação e a família. "Ele também tinha orgulho porque foi a primeira criança a nascer dentro de um avião em pleno ar, no mundo."
O fato ocorreu porque, orientada pelos médicos, em 10 de junho de 1957, a mãe do piloto, Maria Alícia Ribeiro Lepeco, voou de Maringá para Curitiba para fazer o parto em um hospital com mais recursos.
Segundo Andréa, o parto era de risco, mas, antes de pousar, a criança acabou nascendo durante o voo da Vasp.
"O parto foi realizado por um comissário. O nome Vaspeano foi sugerido pelo comandante do avião, Eleude Ziokovisk, que virou padrinho dele", disse.
Com o nascimento no avião da Vasp, Vaspeano ganhou passagens aéreas até o fim da empresa, que faliu em 2008.


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