São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

URBANIDADE

Grife da periferia

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Paulo Borges era mais um anônimo adolescente vindo do interior. Na sua curiosidade, tinha o hábito de se divertir andando de ônibus, sem destino. Acomodava-se num banco grudado à janela e ia descobrindo a paisagem até chegar ao ponto final. "Parecia um filme cheio de surpresas."
Foi um caminho sem volta: nunca mais deixou a cidade. A moda o levou a rotas impensáveis nos centros mundiais: Milão, Paris, Tóquio ou Nova York. Agora, ele entra em mais uma inesperada rota, desta vez na periferia: São Miguel Paulista, na zona leste, cuja paisagem, árida e poluída, nada faz lembrar o charme das passarelas. Prepara-se para desenvolver uma experiência para sofisticar o mercado do estilismo.
Ao criar a São Paulo Fashion Week, que, neste mês, volta a atrair dezenas de milhares de pessoas para as passarelas da cidade, ele descobriu uma série de falhas. "Fui percebendo que faltavam várias peças para aprimorar a vocação da cidade para a moda."
Embora produza estilistas e cada vez mais estudantes de moda, São Paulo é carente de diversos tipos de profissional para a costura. Paulo Borges enxergou a chance de sofisticar a indústria da moda e ganhar mais mercados externos: a idéia foi montar na zona leste, região povoada de desempregados, um núcleo para formar costureiras, que passariam a produzir as peças no próprio local.
Teceu-se, então, uma trama. O presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, Cláudio Vaz, fez o projeto chegar aos ouvidos do empresário Antônio Ermírio de Moraes, que se dispôs a ceder galpões. A Fundação Votorantim, da família Moraes, cuja missão é profissionalizar jovens, ofereceu-se para preparar os cursos. O Centro Paula Souza, que administra escolas de ensino médio e faculdades de tecnologia, já deu sinal de que pode ajudar a montar o currículo no núcleo e avaliar a qualidade dos produtos.
A Prefeitura de São Paulo mostrou-se interessada em atrair mais parceiros para esse arranjo destinado a valorizar a indústria têxtil. Se a idéia der certo, imagina Paulo Borges, os núcleos podem se espalhar pela periferia. Apesar dos fortes padrinhos, a idéia ainda está na prancheta -mas, a considerar o número de pontos a serem unidos, esse é um design bem mais complexo do que os dos modelos que desfilam neste mês nas passarelas.


Texto Anterior: Delegado que investigava tráfico em Santos aparece morto com dois tiros
Próximo Texto: A Cidade é Sua: Pai de aluno exige uniformes e mais aulas no CEU Pedreira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.