São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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VIOLÊNCIA SEXUAL

Estudo é da Unifesp

Só 10% das mulheres vítimas vão à polícia

LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Estudo feito por pesquisadores da Unifesp em cerca de 8.600 prontuários médicos de mulheres vítimas de violência sexual mostra que em somente 10% dos casos houve registro na polícia.
Foram analisados prontuários de mulheres atendidas entre 1998 e 2003 em três centros de referência da capital: o Hospital Pérola Byington, o Hospital Jabaquara e a Casa da Saúde da Mulher Professor Domingos Deláscio, ligada ao Hospital São Paulo.
Também houve entrevistas com vítimas e profissionais que atuavam nessas unidades. Segundo o estudo, 16% das mulheres violentadas contraem alguma doença sexualmente transmissível. Todas disseram que não aceitariam uma gravidez fruto do estupro.
Segundo a coordenadora do estudo, a socióloga Eleonora Menicucci de Oliveira, parte das vítimas não procurou a polícia por desconhecer a existência de delegacias especializadas. A maioria dizia ter medo de ser maltratada ao registrar o estupro.
Ela diz que, da época do estudo até agora, a situação mudou no Hospital Pérola Byington, que implantou o projeto Bem-me-quer, serviço que integra procedimento médico e encaminhamento da vítima à polícia.

Rua Loefgreen
Nos últimos três meses, a Unifesp atendeu oito mulheres vítimas de violência sexual na área da rua Loefgreen, no bairro de Vila Clementino (zona sul), como noticiou a Folha ontem.
Na delegacia, só havia três registros. O delegado da seccional sul, Aldo Galiano, admitiu que há uma subnotificação dos casos.
Dados da Secretaria de Segurança Pública apontam o registro de 303 casos de estupro na capital no primeiro trimestre deste ano. Em 2004, houve 1.262 casos.
Segundo Ana Galati, consultora em saúde do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, vítimas relatam na entidade que policiais perguntam que tipo de roupa elas estavam vestindo e o que elas estavam fazendo na hora do ataque.
"Parece até que a mulher que provocou o estupro. Há uma falta de aconchego nas delegacias", afirma Galati.
Para ela, é precária a capacitação dos profissionais que atuam até mesmo nas delegacias especializadas em atender mulheres.
A delegada Marcia Salgado, coordenadora das DDMs (Delegacias de Defesa da Mulher) no Estado, afirmou que nos serviços especializados o atendimento às vítimas é feito por mulheres que são orientadas sobre como agir em casos de violência sexual.
Ela não descartou a possibilidade do mau atendimento. "Não posso dizer que não ocorra", diz a coordenadora.


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