São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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SAÚDE NA UTI

Ministério Público denuncia 12 pessoas, incluindo médicos, que cobrariam para furar fila em hospitais públicos

Grupo é acusado de vender cirurgias do SUS

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul denunciou à Justiça 12 pessoas supostamente envolvidas em um esquema de venda de cirurgias pagas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e realizadas em hospitais públicos.
Entre os denunciados há médicos que trabalham em um complexo hospitalar público e uma pessoa ligada a políticos do Estado. Existe a suspeita da participação de assessores de um deputado estadual no esquema.
Pelo esquema, pacientes que estavam na fila do SUS pagavam à quadrilha para conseguir fazer a cirurgia antes do previsto. Esse valor era sempre inferior ao cobrado em hospitais privados pelas mesmas operações. Com isso, obtinham um atendimento privilegiado no serviço público.
As investigações do Ministério Público foram realizadas em parceria com o Grupo Hospitalar Conceição -uma instituição pública federal que concentra o maior complexo hospitalar do Rio Grande do Sul, com quatro hospitais-, onde ocorreram as irregularidades.
O pedido de abertura das investigações partiu do Ministério da Saúde. As apurações duraram um ano e oito meses.
Segundo o Ministério Público, médicos do próprio hospital e assessores de parlamentares da Assembléia Legislativa do Estado estavam envolvidos no esquema.
A cobrança ocorria em hospitais do Grupo Conceição. Ainda de acordo com o Ministério Público, o acerto entre médicos e pacientes era feito por Ricardo Gaspari, que, em seus depoimentos, afirmou ser assessor parlamentar, mas não disse para qual deputado estava trabalhando.
Gaspari é conhecido por transitar freqüentemente na Assembléia Legislativa, mas sem ostentar cargos. Já foi funcionário do próprio Grupo Conceição.
A Folha tentou localizá-lo ontem para ouvir sua versão, mas seu telefone estava desligado.
A polícia gravou telefonemas de Gaspari, nos quais ele faz contatos e acerta cirurgias, cujos preços variavam de R$ 700 a R$ 800. Esse material consta da denúncia encaminhada à Justiça.

Deputado implicado
De acordo com o Ministério Público, a maioria dos telefonemas em que eram feitas as negociações passava pelo gabinete do deputado estadual Vilson Covatti (PP), que, segundo as apurações, mantém uma pousada em Porto Alegre para receber os pacientes vindos do interior do Estado.
Covatti, que tem imunidade parlamentar e não foi denunciado com o grupo, alega que tem o abrigo, mantido com seus próprios vencimentos, e que não cobra pela hospedagem.
O local, afirma o deputado, serve para ajudar pessoas do interior. As denúncias do Ministério Público são classificadas por Covatti como ""vazias".
""Meus funcionários recebem pacientes do interior e encaminham para o hospital, sem passar por nenhuma intermediação ou pedir dinheiro. Recebo as pessoas que têm consulta marcada dentro da regra. Nós as pegamos na rodoviária e depois levamos até a pousada", disse.
Os 12 denunciados são acusados de formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e concussão (extorsão cometida por funcionário público).
De acordo com o Grupo Conceição, sete médicos estavam envolvidos no esquema. Quatro foram demitidos e outros três serão afastados do serviço.


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