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SAÚDE NA UTI
Ministério Público denuncia 12 pessoas, incluindo médicos, que cobrariam para furar fila em hospitais públicos
Grupo é acusado de vender cirurgias do SUS
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O Ministério Público Estadual
do Rio Grande do Sul denunciou
à Justiça 12 pessoas supostamente
envolvidas em um esquema de
venda de cirurgias pagas pelo SUS
(Sistema Único de Saúde) e realizadas em hospitais públicos.
Entre os denunciados há médicos que trabalham em um complexo hospitalar público e uma
pessoa ligada a políticos do Estado. Existe a suspeita da participação de assessores de um deputado
estadual no esquema.
Pelo esquema, pacientes que estavam na fila do SUS pagavam à
quadrilha para conseguir fazer a
cirurgia antes do previsto. Esse
valor era sempre inferior ao cobrado em hospitais privados pelas
mesmas operações. Com isso, obtinham um atendimento privilegiado no serviço público.
As investigações do Ministério
Público foram realizadas em parceria com o Grupo Hospitalar
Conceição -uma instituição pública federal que concentra o
maior complexo hospitalar do
Rio Grande do Sul, com quatro
hospitais-, onde ocorreram as
irregularidades.
O pedido de abertura das investigações partiu do Ministério da
Saúde. As apurações duraram um
ano e oito meses.
Segundo o Ministério Público,
médicos do próprio hospital e assessores de parlamentares da Assembléia Legislativa do Estado estavam envolvidos no esquema.
A cobrança ocorria em hospitais do Grupo Conceição. Ainda
de acordo com o Ministério Público, o acerto entre médicos e pacientes era feito por Ricardo Gaspari, que, em seus depoimentos,
afirmou ser assessor parlamentar,
mas não disse para qual deputado
estava trabalhando.
Gaspari é conhecido por transitar freqüentemente na Assembléia Legislativa, mas sem ostentar cargos. Já foi funcionário do
próprio Grupo Conceição.
A Folha tentou localizá-lo ontem para ouvir sua versão, mas
seu telefone estava desligado.
A polícia gravou telefonemas de
Gaspari, nos quais ele faz contatos
e acerta cirurgias, cujos preços variavam de R$ 700 a R$ 800. Esse
material consta da denúncia encaminhada à Justiça.
Deputado implicado
De acordo com o Ministério Público, a maioria dos telefonemas
em que eram feitas as negociações
passava pelo gabinete do deputado estadual Vilson Covatti (PP),
que, segundo as apurações, mantém uma pousada em Porto Alegre para receber os pacientes vindos do interior do Estado.
Covatti, que tem imunidade
parlamentar e não foi denunciado
com o grupo, alega que tem o
abrigo, mantido com seus próprios vencimentos, e que não cobra pela hospedagem.
O local, afirma o deputado, serve para ajudar pessoas do interior.
As denúncias do Ministério Público são classificadas por Covatti
como ""vazias".
""Meus funcionários recebem
pacientes do interior e encaminham para o hospital, sem passar
por nenhuma intermediação ou
pedir dinheiro. Recebo as pessoas
que têm consulta marcada dentro
da regra. Nós as pegamos na rodoviária e depois levamos até a
pousada", disse.
Os 12 denunciados são acusados
de formação de quadrilha, falsidade ideológica, corrupção passiva e concussão (extorsão cometida por funcionário público).
De acordo com o Grupo Conceição, sete médicos estavam envolvidos no esquema. Quatro foram demitidos e outros três serão
afastados do serviço.
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