PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O aposentado Ricardo Aguieiras, 61, segura uma placa que lembra: "Gays idosos também são (muito) gostosos" e solicita "Seja corajosa, ame uma lésbica idosa!".
Corajosa? Mas a parada não é de orgulho? Não é o momento de gays e lésbicas idosos (ou não) agirem com dignidade?
"Muitas vezes, mesmo estando apaixonado, o jovem não namora o idoso porque tem vergonha de apresentá-lo aos amigos. Isso pode levar esse gay mais velho a voltar para o armário e acabar num asilo", acredita Aguieiras, de bermuda justa e curta, cabelos tingidos e bota de cano alto. No momento, ele está sem namorado.
Ali perto, o publicitário Sandro Rezende, 35, se submete a uma "evangelização transformadora de sua condição gay [de volta para a heterossexualidade]". Orientado por Robson dos Santos, 23, que está "lançando sementinhas" na parada, Rezende repete: "Senhor Jesus, eu te aceito como o único senhor da minha vida!".
Seu namorado, o psicólogo Antônio Feliciano, 45, diz as mesmas palavras, com a mão no peito, e considera: "Não sei ainda se vou me converter". Feliciano e Rezende são casados há cinco anos.
Alguns metros adiante, o militar gay Esdras Xavier, 36, divulga sua teoria: "Jesus nos fez assim [gays], ele planejou tudo, entende? Por isso, sabe que não estamos pecando e temos direito ao seu amor".
Mas Xavier e o grupo de amigos que seguram uma faixa da Comunidade Cristã Nova Esperança (400 membros e 14 igrejas) defendem uma "vida gay santa".
Como é isso?
"Já tive isso de ficar com um e com outro, até entrar para a igreja. Aí passei quatro anos sem namorado, sem promiscuidade", diz o militar, que há dois meses namora um torneiro mecânico.
Mas se Jesus planejou o gay, como não imaginou que ele eventualmente seria promíscuo? "A gente tem de se educar quando assume um ideal", diz Xavier, meio vago. Ele afirma que é possível ficar sem transar, "pode acreditar". "Tem gente que ficou até mais tempo que eu", diz, enquanto estende o panfleto com o site da igreja.


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