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São Paulo, terça-feira, 15 de julho de 2003

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DESIGUALDADE

Dados do Inep mostram ainda que, de 1995 a 2001, houve uma queda mais acentuada no desempenho desses alunos

Negros deixam a escola antes dos brancos, diz pesquisa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Estudo feito pelo Inep aponta dois dados preocupantes relacionados à desigualdade racial na educação brasileira. Alunos negros, quando ingressam na escola, param de estudar antes que os brancos. Além disso, de 1995 a 2001, apresentaram uma queda mais acentuada no desempenho.
O levantamento também reforça o resultado de um trabalho de pesquisadores da PUC (Pontifícia Universidade Católica) do Rio de Janeiro, divulgado em maio. Estudantes negros estão aprendendo menos do que brancos de mesmo nível social e da mesma escola.
"Isso mostra que o preconceito influencia no desempenho do aluno. Existe um racismo difuso que impacta a auto-estima do negro", diz Carlos Henrique Araújo, diretor de avaliação da educação básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pelo estudo.
Baseada em dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) de 2001, a pesquisa mostra que, dos 3,7 milhões de alunos matriculados na 4ª série em escolas públicas e privadas, 12% se declararam negros e 44%, brancos.
O percentual de negros diminui para 8% na 8ª série e para apenas 6% no 3º ano do ensino médio. O caminho é inverso para brancos: 46% e 54%, respectivamente.
"Os negros são sistematicamente expulsos do sistema de ensino", diz Araújo. Os dados mostram que, de 1995 a 2001, houve uma queda geral na qualidade, mas entre os negros foi mais acentuada.
Enquanto a nota média em língua portuguesa de alunos brancos matriculados na 4ª série caiu de 193,4 para 174, a dos negros baixou de 173,8 para 147,9.
No 3º ano é pior: a média na mesma disciplina caiu de 298 para 270,5 entre alunos brancos e de 274,9 para 243,1 entre negros.
A escala de notas do Saeb vai de 125 a 425. O exame é aplicado a cada dois anos para alunos de 4ª e 8ª séries e 3º ano do ensino médio.
O Inep também selecionou os dados usando classificações de desempenho que variam de muito crítico a avançado.
Entre estudantes da 4ª série que fizeram a prova de língua portuguesa, 74,4% dos negros estão na classificação "crítico" e "muito crítico". Ou seja, não foram alfabetizados adequadamente após quatro anos de estudo. O índice cai para 51,7% entre os brancos.
Para Araújo, esses resultados mostram que o racismo existe, mesmo não sendo explícito. "O racismo difuso cria uma sensação no aluno de que não conseguirá obter sucesso", afirmou. (LUCIANA CONSTANTINO)


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