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DESIGUALDADE
Dados do Inep mostram ainda que, de 1995 a 2001, houve uma queda mais acentuada no desempenho desses alunos
Negros deixam a escola antes dos brancos, diz pesquisa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Estudo feito pelo Inep aponta
dois dados preocupantes relacionados à desigualdade racial na
educação brasileira. Alunos negros, quando ingressam na escola, param de estudar antes que os
brancos. Além disso, de 1995 a
2001, apresentaram uma queda
mais acentuada no desempenho.
O levantamento também reforça o resultado de um trabalho de
pesquisadores da PUC (Pontifícia
Universidade Católica) do Rio de
Janeiro, divulgado em maio. Estudantes negros estão aprendendo
menos do que brancos de mesmo
nível social e da mesma escola.
"Isso mostra que o preconceito
influencia no desempenho do
aluno. Existe um racismo difuso
que impacta a auto-estima do negro", diz Carlos Henrique Araújo,
diretor de avaliação da educação
básica do Inep (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais), responsável pelo estudo.
Baseada em dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação
Básica) de 2001, a pesquisa mostra
que, dos 3,7 milhões de alunos
matriculados na 4ª série em escolas públicas e privadas, 12% se declararam negros e 44%, brancos.
O percentual de negros diminui
para 8% na 8ª série e para apenas
6% no 3º ano do ensino médio. O
caminho é inverso para brancos:
46% e 54%, respectivamente.
"Os negros são sistematicamente expulsos do sistema de ensino",
diz Araújo. Os dados mostram
que, de 1995 a 2001, houve uma
queda geral na qualidade, mas entre os negros foi mais acentuada.
Enquanto a nota média em língua portuguesa de alunos brancos
matriculados na 4ª série caiu de
193,4 para 174, a dos negros baixou de 173,8 para 147,9.
No 3º ano é pior: a média na
mesma disciplina caiu de 298 para
270,5 entre alunos brancos e de
274,9 para 243,1 entre negros.
A escala de notas do Saeb vai de
125 a 425. O exame é aplicado a
cada dois anos para alunos de 4ª e
8ª séries e 3º ano do ensino médio.
O Inep também selecionou os
dados usando classificações de
desempenho que variam de muito crítico a avançado.
Entre estudantes da 4ª série que
fizeram a prova de língua portuguesa, 74,4% dos negros estão na
classificação "crítico" e "muito
crítico". Ou seja, não foram alfabetizados adequadamente após
quatro anos de estudo. O índice
cai para 51,7% entre os brancos.
Para Araújo, esses resultados
mostram que o racismo existe,
mesmo não sendo explícito. "O
racismo difuso cria uma sensação
no aluno de que não conseguirá
obter sucesso", afirmou.
(LUCIANA CONSTANTINO)
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