São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Promotor é torturado por horas em favela

Rendido quando estacionava o carro, em Niterói, ele contou ter sido confundido com um policial por portar uma pistola

Segundo o Ministério Público, o promotor passou algumas horas em poder dos criminosos; o caso aconteceu no último dia 5


LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Confundido com um policial, um promotor de Justiça do Estado do Rio foi seqüestrado e torturado durante horas por traficantes de um morro de Niterói (região metropolitana). Ele só foi libertado após convencer os criminosos de que não era da polícia.
Em nota, o Ministério Público Estadual classificou o episódio como "seqüestro relâmpago", sem relação com o trabalho que o promotor desenvolve na Vara da Infância, Juventude e Idoso de sua cidade.
O caso aconteceu no último dia 5 e foi revelado ontem pelo jornal "Extra".
O promotor (por questão de segurança, a Folha não divulga seu nome) foi abordado pelos criminosos no bairro de Icaraí, área nobre de Niterói.
Ele acabara de deixar o pai em um bar e estava estacionando o carro quando foi atacado por um grupo de homens. Segundo a 77ª DP (Delegacia de Polícia), o objetivo dos criminosos era roubar o carro.
Segundo relato do promotor à polícia, ao ser rendido, os assaltantes perceberam que ele portava uma pistola -promotores são autorizados a carregar armas. Os assaltantes concluíram então que o promotor era da polícia e decidiram levá-lo para o morro Souza Soares, no bairro vizinho de Santa Rosa (zona sul de Niterói), segundo o comandante do CPAE (Comando de Policiamento de Áreas Especiais da Polícia Militar) da área, tenente-coronel Rosano Augusto.
O promotor contou na delegacia que, no morro, foi levado aos chefes do tráfico, Ali, foi agredido e torturado até conseguir convencer os criminosos de que não era policial.
A polícia não informou quanto tempo o promotor ficou em poder dos traficantes. Segundo o Ministério Público, o seqüestro durou "algumas horas" e os criminosos roubaram a arma e objetos pessoais.
Após ser liberado, muito machucado, o promotor desceu a favela, acompanhado de um dos criminosos. Em seguida, registrou o caso na delegacia.
O pai do promotor disse à Folha, por telefone, que o filho passa bem. "Está tudo bem agora, ele não está mais muito machucado", afirmou. Ele não informou se o filho precisou de atendimento médico. A polícia também não soube dizer se ele foi submetido a exame no IML.
A delegada-titular da 77ª DP, Janaína Pelegrino, disse que a chefia da Polícia Civil determinou sigilo no caso. Por meio da assessoria de imprensa, a chefia do órgão informou que só vai divulgar informações quando o inquérito for concluído.
Na área de abrangência da delegacia de Icaraí, não são comuns os casos de seqüestro relâmpago, como o Ministério Público classificou o crime. Nos cinco primeiros meses deste ano e em todo o ano passado, não houve nenhum caso do tipo, de acordo com estatísticas da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio.
Já os roubos de veículo na área somam 98 só nos cinco primeiros meses deste ano.


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