São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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CAPITAL DO CRIME
Irmãos levam 14 tiros, em Serra

Morreram porque viram crime, diz polícia
Patrícia Santos/Folha Imagem
Garotos que tiveram os irmãos assassinados em Serra (ES)


da enviada especial à Grande Vitória

Edclísio Dias de Oliveira, 16, levou quatro tiros. Seu irmão Alex, 14, recebeu dez. Eles não tinham nenhum envolvimento com tráfico de drogas ou com o crime organizado, mas viviam em Serra. A cidade é o local mais arriscado da Grande Vitória. Ali, até julho, 233 pessoas foram assassinadas, o equivalente a 34% do total de homicídios da região metropolitana.
Em Serra, 90% dos crimes estão associados ao tráfico e, segundo a própria Secretaria da Segurança Pública do Espírito Santo já identificou, estão agindo grupos de extermínio com a participação de policiais. O governo diz que está se preparando para puni-los, e a Assembléia Legislativa do Estado deve aprovar, na próxima terça-feira, a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar esses grupos.
As medidas são uma reação ao trauma provocado pelas duas últimas semanas, particularmente traumáticas para a cidade: em dois dias, dez pessoas foram brutalmente assassinadas. Segundo a polícia, os crimes pareceram planejados: ocorreram de madrugada, o assassino pôde escolher a hora de atirar, e boa parte das pessoas foram mortas em casa.
Os enterros das vítimas tomaram forma de protestos e o prefeito declara que Serra está sendo vítima da impunidade. "Os assassinos são conhecidos, nos bairros todo mundo sabe quem mata", diz Sérgio Vidigal (PDT).
Vidigal acusa o governo do Estado de omissão no combate à violência em Serra, onde reformas das sedes dos distritos policiais e dos batalhões da PM e até carros de polícia são doações da comunidade ou da prefeitura.
A polícia suspeita que Edclísio e Alex morreram apenas por ter cruzado o caminho de um desses grupos. No último dia 4, os dois estavam indo a um posto médico, às 5h, numa mobilete, quando foram mortos. Nada foi roubado e a mobilete estava intocada, como se tivessem sido obrigados a parar.
Para o delegado Germano Pedrosa, da divisão de homicídios de Vitória, o crime é "inexplicável". Ainda não há indícios suficientes para acusar alguém.
A polícia acredita que eles foram vítimas de uma queima de arquivo- teriam presenciado um crime que ocorreu no caminho para o posto médico.
Os pais dos rapazes, assustados, mudaram-se para a casa de parentes com os outros quatro filhos e não dão entrevistas. O pai, João Dias de Oliveira, repete apenas que só confia na Justiça divina.


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