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SAÚDE
Cientista desvenda lado doentio da paixão
ALESSANDRA BLANCO
da Reportagem Local
Pela primeira vez a ciência pode
estar prestes a comprovar o que
sempre se desconfiou: paixão pode ser uma doença. E sua gravidade pode chegar ao ponto de atrapalhar a vida de quem dela está
sofrendo.
A comprovação agora é neuroquímica. Segundo pesquisa da
psiquiatra italiana Donatella Marazziti, da Universidade de Pisa,
pessoas apaixonadas, assim como
aquelas que sofrem de transtorno
obsessivo compulsivo, apresentam, em média, 40% a menos de
serotonina no cérebro.
Serotonina é um neurotransmissor (substância que propicia a
conexão entre as células nervosas) que regula, entre outras coisas, o humor, a ansiedade, a
agressividade, o apetite e o sono.
Já era conhecido da ciência que
pessoas com transtorno obsessivo compulsivo -doença que ficou mais conhecida como a daqueles que lavam as mãos insistentemente para eliminar germes
ou checam constantemente se
trancaram a porta- tinham baixo nível de serotonina no cérebro.
Também já era conhecido que
os sintomas da paixão, tais como
pensar no outro horas por dia,
perder o interesse pelo trabalho
ou por qualquer atividade que
não envolva o pretendente, checar e rechecar a secretária eletrônica na expectativa de um recado,
são muito semelhantes aos apresentados pelos obsessivos compulsivos.
A novidade agora é essa constatação de que apaixonados também apresentam baixo nível de
serotonina, resultado de pesquisa
que Donatella fez comparando
exames biológicos de apaixonados, obsessivos compulsivos e
pessoas "normais".
Para selecionar os apaixonados,
foram levados em conta os seguintes critérios: não estar apaixonado há mais de seis meses,
pensar no outro mais de quatro
horas por dia, não ter mantido
ainda relações sexuais com o pretendente e não apresentar transtornos psiquiátricos (leia texto sobre a metodologia da pesquisa).
Um ano depois dos primeiros
resultados, os testes foram refeitos em alguns dos apaixonados.
Em todos eles os níveis de serotonina haviam voltado ao normal e
eles informaram que uma afeição
mais sutil havia substituído a
"tontura" do início. O que comprova outra tese: paixão tem sintomas obsessivos compulsivos,
mas dura pouco.
Para Donatella, essa é apenas
uma primeira fase de um trabalho. Sua pesquisa mediu a quantidade de serotonina nas plaquetas
do sangue dos apaixonados. Isso
porque, apesar de a serotonina ter
funções diferentes no sangue e no
cérebro, ela atua em cada um deles da mesma maneira.
Assim, os resultados mostram
uma estimativa da quantidade de
serotonina no cérebro dessas pessoas, mas não detecta mudanças
específicas no cérebro.
"Esse é um primeiro passo para
entender os processos químicos
que a paixão provoca no cérebro.
A pesquisa mostra que a quantidade de serotonina na primeira
fase da paixão é anormal. Mas
acho que o amor é um sentimento
muito complexo e não apenas
químico", disse Donatella.
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