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EDUCAÇÃO
Ela é acusada de receber ilegalmente bolsa de estudos de um aluno; valor da restituição é R$ 1.824,68
Professora devolve recursos para a USP
JOSIAS DE SOUZA
Secretário de Redação
Acusada de receber ilegalmente
bolsa de estudos de um de seus
alunos, a professora Célia Regina
da Silva Garcia restituiu aos cofres
da USP a importância de R$
1.824,68. A devolução foi feita em
8 de setembro, seis dias depois de
a Folha ter procurado a direção
da universidade para ouvi-la sobre acusações que pesam contra a
professora.
Célia Regina trabalha no departamento de fisiologia do Instituto
de Biociências da USP. Em representação encaminhada ao procurador-geral de Justiça do Estado
de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, oito colegas da professora pediram que o Ministério Público a
investigue.
Além da apropriação da bolsa
de estudos, ela é acusada de ter sumido com R$ 7.353, dinheiro de
pesquisa da universidade, que deveria ter sido usado na reforma de
um laboratório.
Os professores recorreram a
Marrey por acreditar que a direção da USP queria abafar o caso,
arquivando-o. Ouvido pela Folha, no dia 3 de setembro, o procurador-chefe da universidade,
João Alberto Del Nero, disse que o
grupo "se precipitou" ao solicitar
investigação externa.
Embora reconhecesse não estar
atualizado sobre o caso, Del Nero
declarou que a USP não estava
parada. O caso, afirmou, não seria
engavetado. Na última segunda-feira, o mesmo Del Nero entregou
ao procurador Marrey uma resposta da USP à representação dos
professores.
O procurador-chefe da universidade informou no documento
sobre a devolução do dinheiro referente às bolsas de estudo. E anexou cópias de notas fiscais que demonstrariam como foram gastos
os recursos que deveriam ter servido para a reforma de um laboratório.
A Folha publica hoje, em sua
versão eletrônica, a íntegra dos
textos que sacodem os bastidores
do departamento de fisiologia da
USP: a representação dos professores contra Célia Regina e a defesa escrita por Del Nero. Os documentos podem ser lidos na Internet (veja os endereços no rodapé
desta reportagem).
O texto de Del Nero foi redigido
às pressas, no último final de semana. Com ele, a USP pretende
pôr uma pedra sobre o caso, que
se arrasta pelos escaninhos da
universidade há mais de um ano e
dois meses, desde junho de 98.
Sindicância da própria USP havia recomendado a abertura de
"processo disciplinar" contra Célia Regina, caso se confirmasse a
ilegalidade de seu procedimento.
Documento interno da universidade, obtido pela Folha, registrou a ilegalidade: "(...) houve a
falsa declaração do cumprimento
das horas pelo aluno, endossadas
pelo responsável pelo projeto
(Célia Regina), o que caracteriza a
utilização ilegal dos recursos da
bolsa-trabalho".
No texto enviado a Marrey, Del
Nero faz um exercício retórico para transformar o que antes era
"ilegal" em algo apenas "irregular". Diz ele: "(...) a ilegalidade (lato sensu) a que se referem as manifestações da Coordenadoria de
Assistência Social e o Departamento de Recursos Humanos (da
USP) constitui, mais propriamente, irregularidade stricto sensu,
não ilegalidade strictu sensu."
Seguindo a linha de raciocínio
de Del Nero, a irregularidade teria
sido sanada no instante em que a
professora devolveu o dinheiro.
Não haveria, portanto, necessidade de abertura de processo disciplinar. Um processo que, no limite, poderia levar ao afastamento
de Célia Regina da USP.
Quanto à verba de R$ 7.353, que
recebeu da Pró-Reitoria de Pesquisa, Célia Regina reconhecera,
em depoimento à comissão de
sindicância, que não havia empregado o dinheiro na reforma de
um laboratório.
Ela disse que o engenheiro contratado não conseguiria cumprir
os prazos da obra. Por isso, teria
devolvido o dinheiro. O cheque
estaria no arquivo de seu laboratório. Fez-se na mesma hora uma
diligência. Mas nenhum cheque
foi encontrado no laboratório.
Havia, no local indicado, apenas
R$ 950, em espécie.
O documento de Del Nero traz
agora uma nova versão. Diz que a
professora gastou, sim, o dinheiro. E apresenta cópias de notas,
cuja soma (R$ 7.523,64) até ultrapassa o valor que havia sido repassado à professora. As notas registram compras diversas, tais como persianas, uma geladeira, um
condicionador de ar etc.
O contrato de Célia Regina com
a USP venceu no último dia 31 de
agosto. A professora já solicitou a
renovação. A chefia do departamento de fisiologia deve negar o
pedido. Mas a reitoria da universidade pretende, segundo apurou
a Folha, renová-lo. O caso foi debatido ontem em reunião extraordinária da congregação do
Instituto de Biociências da USP.
A reunião foi convocada só para
debater o assunto. A congregação, órgão máximo do Instituto
de Biociências, é integrada por 32
pessoas (professores, representantes de alunos e de funcionários
e chefes de departamento.)
Excepcionalmente, o reitor da
USP, Jacques Marcovitch, estava
presente.
Endereço na Internet: http://www.uol.com.br/fsp/especial/cotidian/relato1.htm e http://www.uol.com.br/fsp/especial/cotidian/relato2.htm
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