São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

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Ex-diretor é contra o fim da Casa de Detenção

ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"

Luiz Camargo Wolfmann, 71, o Luizão, fez do boxe um dos métodos mais produtivos para conseguir administrar a Casa de Detenção, entre os anos de 1980 e 1986.
"Era na troca de porrada, em cima do ringue, que eu conseguia amansar muito preso que me causava problema dentro da Detenção", explica Luizão, que trabalhou 40 anos no sistema prisional do Estado. "Quando eu morrer, não vai ter jeito, vão noticiar assim: "Morreu o Luizão da Detenção, que trocava socos com os bandidos no ringue". Ali eu sabia de muita coisa, desde quem passava drogas até quem planejava fugas", relata o ex-diretor.
Um dos presos treinados por Luizão, Manoel Borges dos Santos, do pavilhão 9, chegou a conquistar o título brasileiro de boxe de meio-pesado, na década de 80.
Após cumprir dois anos e meio de pena e ser libertado, Santos voltou depois de um ano à Detenção e disse a Luizão que queria ser preso novamente. "Tudo porque ele tinha mentido sobre seu nome verdadeiro, que era Rui Barbosa Bonfim, e tinha mais 16 anos para cumprir", contou o ex-diretor.
Foi por causa de sua condição de boxer, inclusive, que Luizão lutou com alguns dos 12 presos que se rebelaram em março de 1982. "Dei uma cabeçada no preso que liderava o motim, tomei o revólver dele e consegui subir no alto do pavilhão 2 para salvar as pessoas que foram feitas reféns."
No final, dois funcionários foram mortos pelos 12 rebelados. A PM, por sua vez, invadiu o pavilhão e matou oito amotinados.
O ex-diretor-também advogado-é considerado um especialista em assuntos prisionais e afirma ser desfavorável, neste momento, ao fim do Carandiru.
"Não é momento de desativar ainda. Acho que o governo poderia escolher uma cidade aqui da Grande São Paulo e criar um complexo grande também e dar toda a infra-estrutura para que ele fosse de segurança máxima. Não dá para mandar essa gente toda para o interior. Preso que não recebe visita é difícil de controlar."


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