São Paulo, domingo, 15 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENTREVISTA

Psicólogos migram de clínicas para área social

AURELIANO BIANCARELLI
ENVIADO ESPECIAL A ASSIS

Contingentes cada vez maiores de estudantes de psicologia estão trocando a expectativa do atendimento em consultório pela psicologia comunitária. Eles estão rompendo com a imagem dominante do psicólogo-psicoterapeuta e criando novos espaços de trabalho em postos de saúde, em escolas e em grupos de crianças, de casais, de idosos e de esportistas.
Ainda não há pesquisas sobre essa tendência, mas a migração da clínica para o social foi um dos temas do 17º Encontro de Psicologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), realizado nesta semana em Assis. O debate deste ano tratou dos "desafios contemporâneos" da psicologia. O 4º Encontro de Pós-Graduação, que aconteceu ao mesmo tempo, tratou das "temáticas de pesquisa".
"Muitos alunos que chegam pensando na clínica, acabam optando pela psicologia social", diz Diana de Sá A. Ribeiro, uma das coordenadoras do encontro.
Ana Mercês Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia, diz que muitos dos 170 cursos de psicologia do país estão se preparando para essa nova realidade. "A psicologia hoje, no Brasil, tem compromisso marcadamente social." Abaixo, trechos da entrevista que concedeu:

 

Folha - Por que os psicólogos estão trocando a clínica pela atuação em outras áreas da comunidade?
Ana Mercês Bahia Bock
- Primeiro, porque os cerca de 8.000 psicólogos que se formam por ano não vêm mais apenas das classes média e alta. Muitos vêm de realidades onde o psicoterapeuta não está presente. Segundo, o mercado de trabalho. Somos cerca de 200 mil psicólogos formados e apenas 118 mil estão inscritos nos conselhos, com autorização para atuar em consultórios. Os outros estão descobrindo novos campos de atuação. A terceira razão é a situação brasileira de pobreza, que vem ampliando muito as demandas para a psicologia.

Folha - De onde vêm essas demandas e como elas se viabilizam?
Ana
- A psicologia comunitária, iniciada nos anos 70, vem gerando campos de participação em todas as áreas. Esse debate levou a uma discussão que está presente na maioria dos nossos encontros. A pergunta que fazemos é qual é a contribuição que a psicologia pode dar à sociedade? A questão do compromisso social passou a ser um lema da categoria. Posso dizer que hoje não há no Brasil nenhum assunto que seja estranho à psicanálise. Há trabalhos nos assentamentos, com crianças de rua, com jovens que usam drogas, há até uma psicologia do dinheiro. Há uma década, os psicólogos discutiam e se juntavam em torno de uma linha teórica. Hoje eles se aproximam pela áreas de atuação ou de intervenção.


Aureliano Biancarelli viajou a convite da Unesp - campus de Assis


Texto Anterior: Agenda
Próximo Texto: Plano Diretor: Falta de fiscal pode dificultar aplicação da lei
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.