São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CALÇADA FECHADA

Bancas de livros usados e flautista que vendia discos na região da avenida foram retirados ou perderam o espaço

Paulista perde seu comércio cultural de rua

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nada de livros nem de música. Quem passa pela avenida Paulista e pela rua Augusta não encontra mais os camelôs culturais. O flautista que tocava no Conjunto Nacional e vendia discos foi trocado por uma das vacas de fibra de vidro em exposição na cidade. Os livreiros que vendiam títulos usados na porta do Espaço Unibanco de Cinema foram retirados no dia 7. Eles preparam protesto para sábado, às 17h, diante do cinema.
Há 12 anos na Augusta, os dez vendedores tiveram as obras apreendidas. Adriano Lima, 31, ficou com alguns livros em casa, mas teve raridades levadas, como um sobre a prostituição de São Paulo escrito por Guido Fonseca e um exemplar de 1977 autografado por Hilda Hilst. Ele tentou barrar a ação dos guardas-civis. Acabou algemado e citado na delegacia num termo de crime contra a administração pública e resistência.
"Os guardas não sabem a diferença do CD pirata para o livro raro usado. Acham tudo contrabando, nos trataram feito marginais", conta. "Até onde sei, livro usado não é mercadoria ilegal."
Lima diz que os livreiros não atrapalham os pedestres nem o comércio porque atuam aos fins de semana ou após as 18h. Entre os clientes estavam José Genoíno, Florestan Fernandes Júnior e Tarcísio Meira Filho. "Eles vêm em busca de cultura. É muito melhor ter a calçada cheia de livro do que de traficante e mendigo."
O flautista Emerson Pinzindin, 41, não se conforma em não poder mais tocar no Conjunto Nacional. "Há dois meses, a síndica que me convidou para tocar em 1995 me expulsou de lá. Disse que o repertório estava repetitivo e barulhento demais", conta. "Estava cansado de discutir com ela e fui fazer meu trabalho na calçada. A síndica pôs um monte de floreira e foi reduzindo meu espaço, até que, há uns 20 dias, chegou a vaca para a exposição. Aí não deu mais."
Pinzindin diz que não tem nada contra a escultura, a não ser o fato de ela ter roubado seu local de trabalho. Tocando diariamente, das 18h às 20h30, ele conseguia vender seus discos e angariar alunos para aulas particulares. Por mês, ganhava cerca de R$ 1.000.


Texto Anterior: Plano de corredor de ônibus para Congonhas volta
Próximo Texto: Sem termo, livreiro não trabalha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.