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CALÇADA FECHADA
Bancas de livros usados e flautista que vendia discos na região da avenida foram retirados ou perderam o espaço
Paulista perde seu comércio cultural de rua
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Nada de livros nem de música.
Quem passa pela avenida Paulista
e pela rua Augusta não encontra
mais os camelôs culturais. O flautista que tocava no Conjunto Nacional e vendia discos foi trocado
por uma das vacas de fibra de vidro em exposição na cidade. Os livreiros que vendiam títulos usados na porta do Espaço Unibanco
de Cinema foram retirados no dia
7. Eles preparam protesto para sábado, às 17h, diante do cinema.
Há 12 anos na Augusta, os dez
vendedores tiveram as obras
apreendidas. Adriano Lima, 31, ficou com alguns livros em casa,
mas teve raridades levadas, como
um sobre a prostituição de São
Paulo escrito por Guido Fonseca e
um exemplar de 1977 autografado
por Hilda Hilst. Ele tentou barrar
a ação dos guardas-civis. Acabou
algemado e citado na delegacia
num termo de crime contra a administração pública e resistência.
"Os guardas não sabem a diferença do CD pirata para o livro raro usado. Acham tudo contrabando, nos trataram feito marginais",
conta. "Até onde sei, livro usado
não é mercadoria ilegal."
Lima diz que os livreiros não
atrapalham os pedestres nem o
comércio porque atuam aos fins
de semana ou após as 18h. Entre
os clientes estavam José Genoíno,
Florestan Fernandes Júnior e Tarcísio Meira Filho. "Eles vêm em
busca de cultura. É muito melhor
ter a calçada cheia de livro do que
de traficante e mendigo."
O flautista Emerson Pinzindin,
41, não se conforma em não poder
mais tocar no Conjunto Nacional.
"Há dois meses, a síndica que me
convidou para tocar em 1995 me
expulsou de lá. Disse que o repertório estava repetitivo e barulhento demais", conta. "Estava cansado de discutir com ela e fui fazer
meu trabalho na calçada. A síndica pôs um monte de floreira e foi
reduzindo meu espaço, até que,
há uns 20 dias, chegou a vaca para
a exposição. Aí não deu mais."
Pinzindin diz que não tem nada
contra a escultura, a não ser o fato
de ela ter roubado seu local de trabalho. Tocando diariamente, das
18h às 20h30, ele conseguia vender seus discos e angariar alunos
para aulas particulares. Por mês,
ganhava cerca de R$ 1.000.
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