São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Mulher morre ao ser arrastada por carro que fugia de roubo

Virgínia Almeida foi arrastada por 150 m após ser atingida por um motorista que, como ela, tentava fugir de um crime

Após acidente, condutor do carro ficou em estado de choque; ele deve ser indiciado por homicídio culposo (sem intenção)

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Uma mulher foi atropelada e arrastada por 150 metros durante um assalto anteontem na zona norte do Rio. Ela foi atingida pelo carro de um vizinho que também fugia do local no momento do crime. A enfermeira Virgínia Santana Viegas de Almeida, 51, ficou presa embaixo de um Palio branco e foi arrastada na rua onde mora, passando por um obstáculo.
O motorista, Henrique Santos Alves, 28, ficou em estado de choque após o ocorrido. Ele deve ser indiciado por homicídio culposo (sem intenção) e, segundo a Folha apurou, mora na mesma rua de Virgínia.
Ela atravessava a rua Bamboré para se distanciar de um assalto próximo de casa. O motorista dava ré na via para fugir do mesmo crime e atropelou a vítima. O rastro de sangue, cabelo e a sandália destruída da vítima permaneceram no local até o início da tarde.
Almeida foi internada no Hospital Salgado Filho, mas não resistiu. Segundo vizinhos, Virgínia ficou completamente desfigurada pelos machucados.
"Ela gritava pela irmã médica. Foi horrível, ela estava muito mal, mas parecia forte, que iria sobreviver", disse o aposentado Antônio Carlos Dias.
O homem que atropelou Virgínia foi localizado pela polícia por meio da câmera de uma empresa de filmagem que gravava imagens da rua no momento. O carro, segundo o delegado Jader Amaral, da 44ª DP (Inhaúma), que investiga o caso, saía da rua em alta velocidade no momento em que ocorreu o atropelamento.

Fatalidade
Alves prestou depoimento ontem. Ele disse que não tinha visto Virgínia. "Ele só ficou sabendo do atropelamento depois. Está muito abalado. Foi uma fatalidade", disse Jader.
Segundo a polícia, quatro homens roubaram um Siena na rua Rocha Pita, em Cachambi. Uma patrulha da PM perseguiu o grupo, que abandonou o veículo na rua Getúlio. Após uma troca de tiros, o grupo se dividiu. Dois dos fugitivos seguiram em direção à rua Bamboré.
A polícia prendeu Paulo Ricardo Silva de Almeida, 20. Ele é suspeito de ter atirado, na segunda-feira, contra o trem em que estavam os ministros Marcio Fortes (Cidades) e Pedro Brito (Portos). O quarto homem do grupo fugiu.
Na rua Bamboré, os dois criminosos tentaram assaltar dois homens. Percebendo a movimentação, a enfermeira tentou correr -foi, então, atropelada. A dupla de criminosos acabou fugindo também.

Iraque
Moradores da rua Bamboré estenderam panos pretos em luto pela morte de Virgínia.
O caso ocorreu sete meses após a morte de João Hélio Fernandes, 6, arrastado por sete quilômetros por ruas de quatro bairros do Rio.
"Isso aqui parece o Iraque. Às vezes a gente até brinca: "Vamos chamar as tropas do homem lá?", afirmou o aposentado Antônio Carlos Dias, sobre as Forças Armadas dos EUA.
O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) reconheceu a falta de policiamento na região. "É um fato, realmente não é suficiente".
Virgínia foi enterrada à tarde no Cemitério do Caju. "Ela é mais uma vítima de toda essa violência", disse o marido da enfermeira, Luiz César de Almeida, 52. Virgínia era mãe de João Luiz de Almeida, 17.
Descrita pelas colegas de trabalho como alegre, Virgínia completara 51 anos no último dia 4. "Houve uma festa para ela na maternidade. Ela estava sempre para cima, tinha gana de vida", contou a enfermeira Elizabeth da Silva, 44.


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