São Paulo, sábado, 15 de setembro de 2007

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Tráfico controla estações de trem

Parte dos moradores de favelas controladas por facções criminosas no Rio são liberados de pagar passagens

Condutores dizem que traficantes ordenam até velocidade mínima dos trens e usam arma com mira a laser para intimidá-los

MÁRCIA BRASIL
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Em duas estações de trem do Rio, Manguinhos e Jacarezinho (na zona norte), parte dos moradores não paga passagens por pressão do tráfico. Em outras dez, há presença ostensiva de criminosos armados nas plataformas e nas margens da linha férrea. Em mais três paradas, partes dos muros que ficam ao longo da via foram derrubados, criando uma rota de fuga em caso de invasão rival ou de operação policial. Os trens do Rio cruzam ao menos 27 favelas controladas por traficantes de diferentes facções.
As informações constam de mapeamento da Comissão Nacional de Policiais Ferroviários Federais, entregue à Secretaria de Segurança Pública, em fevereiro, como contribuição ao plano de segurança para os Jogos Pan-Americanos.
As roletas das estações de Manguinhos e Jacarezinho são pouco usadas. Pelos relatos de policiais ferroviários e de usuários obtidos pela Folha, os passageiros passam ao lado ou por cima das catracas ou entram nas estações por passagens abertas nos muros e cercas laterais. Não existe qualquer tipo de fiscalização.
A presença de traficantes armados com fuzis e pistolas garante as viagens gratuitas. A SuperVia, concessionária do transporte de passageiros, no entanto, nega que as estações das duas favelas não tenham cobrança de passagem por ordem do tráfico e informa que houve crescimento de 36,7% (de 637 para 871) no registro de passageiros diários na estação de Manguinhos no período entre 1999 e 2006.
Na estação do Jacarezinho, onde houve o ataque ao trem com autoridades na última segunda-feira, não havia sido registrado a entrada de nenhum passageiro em 1999, quando, admite a SuperVia, de fato a entrada era liberada. Em 2006, 1.013 por dia utilizaram a estação. Segundo a SuperVia -que assumiu o controle da linha férrea em 1998-, houve um "trabalho social" junto à comunidade para que fosse dado um fim nas entradas descontroladas na estação.

Velocidade mínima
Além de ocupar parte de estações e franquear a entrada de moradores, os traficantes também determinam procedimentos aos trabalhadores do setor que circulam em Manguinhos e no Jacarezinho. As composições são obrigadas a circular nestes trechos no máximo a 20 quilômetros por hora. Os faróis ligados, mesmo durante o dia, e o uso constante da buzina também estão entre as "regras", de acordo com integrantes da Associação de Maquinistas do Rio, do Sindicato dos Ferroviários do Rio e de condutores da MRS Logística (que opera o ramal de cargas) e da SuperVia (de passageiros).
Os trabalhadores relatam que passam a 10 km/h para evitar represálias. Segundo os ferroviários, os criminosos usam armas com mira a laser para intimidá-los.
Eles afirmam que grupos de traficantes chegam a vistoriar composições para verificar se existem criminosos rivais ou policiais circulando nos vagões e que em algumas vezes acabam sendo assaltados pelos criminosos.
Para os integrantes da categoria, as estações mais perigosas para circular são as que ficam próximas das favelas do Jacarezinho, Manguinhos, Vigário Geral, Parada de Lucas, Sapo, Rebu e Coréia, em Senador Camará; e Cavalo de Aço, em Santíssimo.
De acordo com o levantamento da Comissão de Policiais Ferroviários, as estações de Barros Filho e Costa Barros, também na zona norte, são apontadas como supostos "entrepostos" de distribuição de drogas e armas para diversas favelas. As duas estações estão localizadas na área de entroncamento do ramal de cargas com o de passageiros.
Pelo mapeamento feito pelos integrantes da comissão, a malha ferroviária se transformou em um corredor para o transporte, sem fiscalização, de qualquer tipo de "mercadoria", o que favorece um tipo de tráfico chamado de "formiguinha" - quando o criminoso se desloca de um ponto a outro levando pouca quantidade de drogas ou armas de cada vez.
O BPFer (Batalhão de Policiamento Ferroviário) da PM informou que são realizadas revistas dentro dos vagões, mas apenas entre 8h e 17h.


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