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Tráfico controla estações de trem
Parte dos moradores de favelas controladas por facções criminosas no Rio são liberados de pagar passagens
Condutores dizem que traficantes ordenam até velocidade mínima dos trens e usam arma com mira a laser para intimidá-los
MÁRCIA BRASIL
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Em duas estações de trem do
Rio, Manguinhos e Jacarezinho (na zona norte), parte dos
moradores não paga passagens
por pressão do tráfico. Em outras dez, há presença ostensiva
de criminosos armados nas plataformas e nas margens da linha férrea. Em mais três paradas, partes dos muros que ficam ao longo da via foram derrubados, criando uma rota de
fuga em caso de invasão rival ou
de operação policial. Os trens
do Rio cruzam ao menos 27 favelas controladas por traficantes de diferentes facções.
As informações constam de
mapeamento da Comissão Nacional de Policiais Ferroviários
Federais, entregue à Secretaria
de Segurança Pública, em fevereiro, como contribuição ao
plano de segurança para os Jogos Pan-Americanos.
As roletas das estações de
Manguinhos e Jacarezinho são
pouco usadas. Pelos relatos de
policiais ferroviários e de usuários obtidos pela Folha, os passageiros passam ao lado ou por
cima das catracas ou entram
nas estações por passagens
abertas nos muros e cercas laterais. Não existe qualquer tipo
de fiscalização.
A presença de traficantes armados com fuzis e pistolas garante as viagens gratuitas. A
SuperVia, concessionária do
transporte de passageiros, no
entanto, nega que as estações
das duas favelas não tenham
cobrança de passagem por ordem do tráfico e informa que
houve crescimento de 36,7%
(de 637 para 871) no registro de
passageiros diários na estação
de Manguinhos no período entre 1999 e 2006.
Na estação do Jacarezinho,
onde houve o ataque ao trem
com autoridades na última segunda-feira, não havia sido registrado a entrada de nenhum
passageiro em 1999, quando,
admite a SuperVia, de fato a entrada era liberada. Em 2006,
1.013 por dia utilizaram a estação. Segundo a SuperVia -que
assumiu o controle da linha
férrea em 1998-, houve um
"trabalho social" junto à comunidade para que fosse dado um
fim nas entradas descontroladas na estação.
Velocidade mínima
Além de ocupar parte de estações e franquear a entrada de
moradores, os traficantes também determinam procedimentos aos trabalhadores do setor
que circulam em Manguinhos e
no Jacarezinho. As composições são obrigadas a circular
nestes trechos no máximo a 20
quilômetros por hora. Os faróis
ligados, mesmo durante o dia, e
o uso constante da buzina também estão entre as "regras", de
acordo com integrantes da Associação de Maquinistas do
Rio, do Sindicato dos Ferroviários do Rio e de condutores da
MRS Logística (que opera o ramal de cargas) e da SuperVia
(de passageiros).
Os trabalhadores relatam
que passam a 10 km/h para evitar represálias. Segundo os ferroviários, os criminosos usam
armas com mira a laser para intimidá-los.
Eles afirmam que grupos de
traficantes chegam a vistoriar
composições para verificar se
existem criminosos rivais ou
policiais circulando nos vagões
e que em algumas vezes acabam sendo assaltados pelos criminosos.
Para os integrantes da categoria, as estações mais perigosas para circular são as que ficam próximas das favelas do
Jacarezinho, Manguinhos, Vigário Geral, Parada de Lucas,
Sapo, Rebu e Coréia, em Senador Camará; e Cavalo de Aço,
em Santíssimo.
De acordo com o levantamento da Comissão de Policiais
Ferroviários, as estações de
Barros Filho e Costa Barros,
também na zona norte, são
apontadas como supostos "entrepostos" de distribuição de
drogas e armas para diversas
favelas. As duas estações estão
localizadas na área de entroncamento do ramal de cargas
com o de passageiros.
Pelo mapeamento feito pelos
integrantes da comissão, a malha ferroviária se transformou
em um corredor para o transporte, sem fiscalização, de qualquer tipo de "mercadoria", o
que favorece um tipo de tráfico
chamado de "formiguinha" -
quando o criminoso se desloca
de um ponto a outro levando
pouca quantidade de drogas ou
armas de cada vez.
O BPFer (Batalhão de Policiamento Ferroviário) da PM
informou que são realizadas revistas dentro dos vagões, mas
apenas entre 8h e 17h.
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