São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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Coleção tem trio do modernismo

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Graziela Lafer Galvão integra um gênero de colecionador de arte em extinção -não é exibicionista, não expõe os trabalhos que adquire como troféus de sua ascensão social.
Acionista das Indústrias Klabin, a maior empresa do Brasil no setor de papel e celulose, ela vive em um mundo no qual exibicionismo é, na verdade, sinal de má educação.
A coleção de Graziela, iniciada na década de 1960, é uma espécie de panteão do consagrado modernismo brasileiro -tem Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e Ismael Nery. O trio era obrigatório em todas as coleções feitas nessa época.

Arte contemporânea
Nas obras contemporâneas, ela revela um gosto menos óbvio: tem telas de Iberê Camargo, duas obras de Frans Krajcberg e duas esculturas em mármore de Sérgio Camargo (as quais não foram levadas pelos ladrões, não se sabe se por ignorância ou por causa do peso das pedras).
As obras de Krajcberg têm um sentido especial na coleção: o artista nascido na Polônia em 1921 trabalhou como engenheiro de projetos para a família Klabin na fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba (PR), entre 1952 e 1956. O pintor Lasar Segall, casado com Jenny Klabin, indicou Krajcberg.
Foi lá que ele decidiu que a sua arte teria como matéria-prima a natureza destruída. Teve esse estalo ao ver a derrubada das florestas de araucárias.
O relato da destruição feito por Krajcberg é impressionante: "Em quatro anos eu nunca vi a luz do sol de forma natural. Ou era amarela ou vermelha, de tanta fumaça. Um dia eu fui ao norte do Paraná e vi a guerra. Eu disse "não suporto mais a guerra", por isso fui embora daqui".
Guerra, no caso, não tem nada de metafórico: Krajcberg havia lutado na Segunda Guerra Mundial no exército polonês. Ficara tão enojado com o que vira que jogou fora as medalhas que recebera do ditador russo Josef Stálin.
Em uma coleção pequena como a de Graziela, a presença de duas obras de Frans Krajcberg valem por um manifesto.


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