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Coleção tem trio do modernismo
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Graziela Lafer Galvão integra
um gênero de colecionador de arte em extinção -não é exibicionista, não expõe os trabalhos que
adquire como troféus de sua ascensão social.
Acionista das Indústrias Klabin,
a maior empresa do Brasil no setor de papel e celulose, ela vive em
um mundo no qual exibicionismo é, na verdade, sinal de má
educação.
A coleção de Graziela, iniciada
na década de 1960, é uma espécie
de panteão do consagrado modernismo brasileiro -tem Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e Ismael Nery. O trio era
obrigatório em todas as coleções
feitas nessa época.
Arte contemporânea
Nas obras contemporâneas, ela
revela um gosto menos óbvio:
tem telas de Iberê Camargo, duas
obras de Frans Krajcberg e duas
esculturas em mármore de Sérgio
Camargo (as quais não foram levadas pelos ladrões, não se sabe se
por ignorância ou por causa do
peso das pedras).
As obras de Krajcberg têm um
sentido especial na coleção: o artista nascido na Polônia em 1921
trabalhou como engenheiro de
projetos para a família Klabin na
fazenda Monte Alegre, em Telêmaco Borba (PR), entre 1952 e
1956. O pintor Lasar Segall, casado com Jenny Klabin, indicou
Krajcberg.
Foi lá que ele decidiu que a sua
arte teria como matéria-prima a
natureza destruída. Teve esse estalo ao ver a derrubada das florestas de araucárias.
O relato da destruição feito por
Krajcberg é impressionante: "Em
quatro anos eu nunca vi a luz do
sol de forma natural. Ou era amarela ou vermelha, de tanta fumaça. Um dia eu fui ao norte do Paraná e vi a guerra. Eu disse "não
suporto mais a guerra", por isso
fui embora daqui".
Guerra, no caso, não tem nada
de metafórico: Krajcberg havia lutado na Segunda Guerra Mundial
no exército polonês. Ficara tão
enojado com o que vira que jogou
fora as medalhas que recebera do
ditador russo Josef Stálin.
Em uma coleção pequena como
a de Graziela, a presença de duas
obras de Frans Krajcberg valem
por um manifesto.
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