São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2010

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ANÁLISE

Justiça não deve impedir a escola de fazer seu trabalho

ANA MERCÊS BAHIA BOCK
ESPECIAL PARA A FOLHA

Justiça e Educação são duas importantes invenções humanas, em geral, guiadas pela mesma ética e valores sociais. Mas, nem sempre podem ter seus princípios e ações harmônicos.
O caso de Fernandópolis talvez seja um exemplo do conflito entre estas instâncias sociais. O Conselho Tutelar decide que uma jovem de 14 anos será acompanhada por sua mãe em suas atividades escolares na sala de aula.
O que poderia ser incongruente neste caso? A educação é um processo social que visa- entre outras coisas- desenvolver autonomia e responsabilidade nos sujeitos sociais. Suas ferramentas são o conhecimento e as relações sociais.
Crianças e jovens aprendem com o exercício da convivência social. E a escola não é um espaço segregado. A escola é experiência social, por excelência.
Quando um juiz determina que a mãe da jovem de 14 anos deve estar com ela na sala de aula, ele atesta a incapacidade da escola de fazer o seu trabalho, interfere nas formas educativas de formar cidadãos e desestimula a autonomia e responsabilidade.
O que assistimos em Fernandópolis é a "judicialização da vida". É a crença de que todos os problemas e questões podem e devem ser resolvidos pela Justiça.
Justiça é impositiva, escola é educativa. A educação tem se mostrado um processo social forte e potente para interferir na vida coletiva. É preciso cuidar para que a Justiça não impeça a educação de fazer seu trabalho.
Se medidas educativas não deram certo, por que daria certo a imposição judicial? A escola nunca termina sua tarefa e por isto não se deve, neste campo, dizer que nenhuma medida deu certo.


ANA MERCÊS BAHIA BOCK é psicóloga e professora da PUC-SP


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