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ANÁLISE
Justiça não deve impedir a escola de fazer seu trabalho
ANA MERCÊS BAHIA BOCK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Justiça e Educação são
duas importantes invenções
humanas, em geral, guiadas
pela mesma ética e valores
sociais. Mas, nem sempre podem ter seus princípios e
ações harmônicos.
O caso de Fernandópolis
talvez seja um exemplo do
conflito entre estas instâncias sociais. O Conselho Tutelar decide que uma jovem de
14 anos será acompanhada
por sua mãe em suas atividades escolares na sala de aula.
O que poderia ser incongruente neste caso?
A educação é um processo
social que visa- entre outras
coisas- desenvolver autonomia e responsabilidade nos
sujeitos sociais. Suas ferramentas são o conhecimento
e as relações sociais.
Crianças e jovens aprendem com o exercício da convivência social. E a escola
não é um espaço segregado.
A escola é experiência social, por excelência.
Quando um juiz determina
que a mãe da jovem de 14
anos deve estar com ela na
sala de aula, ele atesta a incapacidade da escola de fazer o
seu trabalho, interfere nas
formas educativas de formar
cidadãos e desestimula a autonomia e responsabilidade.
O que assistimos em Fernandópolis é a "judicialização da vida". É a crença de
que todos os problemas e
questões podem e devem ser
resolvidos pela Justiça.
Justiça é impositiva, escola é educativa. A educação
tem se mostrado um processo social forte e potente para
interferir na vida coletiva. É
preciso cuidar para que a Justiça não impeça a educação
de fazer seu trabalho.
Se medidas educativas
não deram certo, por que daria certo a imposição judicial? A escola nunca termina
sua tarefa e por isto não se
deve, neste campo, dizer que
nenhuma medida deu certo.
ANA MERCÊS BAHIA BOCK é psicóloga e
professora da PUC-SP
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