São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2004

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NA AREIA

Locais turísticos concentram mais roubos e furtos, mas índices oficiais apontam queda de crimes no litoral norte

Praias mais famosas são principais alvos

DO ENVIADO A SÃO SEBASTIÃO

As praias mais famosas de São Sebastião atraem os turistas e, por conseqüência, também chamam a atenção dos ladrões, de acordo com dados da Polícia Militar.
Os crimes mais comuns são roubo e furto e se concentram na costa sul, onde ficam Maresias, Boiçucanga, Camburi, Juqueí, Boracéia, Barra do Una e Barra do Saí. Essas praias são as mais freqüentadas por turistas, principalmente de São Paulo, que lotam pousadas e casas de veraneio em temporada de férias ou feriados.
De janeiro a agosto de 2003, foram 32 roubos e 50 furtos em Maresias. No mesmo período de 2004, 12 roubos e 15 furtos. Em Boiçucanga, foram 12 roubos e 19 furtos em 2003, contra 8 roubos e 6 furtos neste ano. Em praias pouco freqüentadas, como Baraqueçaba, praticamente não há registros de crimes. Em fevereiro, por exemplo, a PM abordou somente um homem suspeito de invadir uma residência.
Na costa sul, as estatísticas da PM mostram que os índices da criminalidade estão diminuindo. Para a secretária do Conseg de Boiçucanga, Éder Ávila Castanha Monteiro, a redução não reflete a realidade. "Muitas pessoas, principalmente turistas, não chamam a polícia por medo ou porque acreditam que não vale a pena."
Essa tendência de queda nos números oficiais acompanha os índices do litoral norte inteiro, onde estão também Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba. O número de furtos no litoral norte caiu 8,4% entre janeiro e setembro deste ano na comparação com os mesmos meses do ano passado -de 5.724 para 5.241. Os homicídios diminuíram 44,1% -de 102 para 57. Os roubos tiveram alta de 1% -de 977 para 987.
O delegado seccional de São Sebastião, João Barbosa, diz que a queda dos índices é fruto da ação mais intensiva da polícia. Cita um reforço do efetivo da PM no feriado de Finados, quando 200 homens foram deslocados para lá, dobrando a quantidade de policiais na região. O deslocamento -determinado pela primeira vez pela Secretaria da Segurança Pública- ocorreu após dois seqüestros em Caraguatatuba, no feriado de 12 de outubro. Em um dos casos, uma menina de cinco anos morreu depois que o carro em que sua família era mantida refém bateu na marquise de uma ponte.
Para o delegado, há um "excesso de divulgação", por parte da imprensa, dos crimes graves, o que, diz ele, seria responsável por despertar nos turistas "uma falsa sensação de insegurança". "O litoral norte não tem um índice de criminalidade alto. Estão dando uma dimensão à criminalidade maior do que realmente existe."

Mundo real
Relatos de assaltos e furtos a residências de veraneio têm se tornado comuns no litoral norte. Polícia Civil e Secretaria de Segurança Pública não divulgam números desse tipo de ocorrência.
Sábado, 16 de outubro, 11h. O empresário paulistano M., 28, está com a mãe e a filha de um ano e quatro meses na casa adquirida recentemente pela família em Juqueí. O dia está ensolarado, e os três se preparam para deixar a casa e aproveitar a manhã na praia. Antes que cheguem ao portão são dominados por dois assaltantes armados e encapuzados. Ficam reféns por mais de uma hora. "Os assaltantes nos levaram para um dos quartos. Eu estava com minha filha e fiquei mais de uma hora com uma arma apontada para a minha cabeça", conta M., que pediu para não ser identificado. "Só depois de negociar muito é que eles aceitaram nos deixar trancados e fugir com alguns aparelhos eletrônicos. Esperamos mais uma hora e então saímos para pedir socorro", contou M., de São Paulo, que diz nunca ter sido assaltado na capital.
A jornalista Regina Helena de Paiva Ramos, 72, secretária da Associação de Amigos de Juqueí, reforça a tese de aumento da violência. Ela recorda que no início do ano o bairro foi alvo de uma quadrilha que praticou pelo menos 12 assaltos a residências.
Pelo menos dez turistas foram estupradas pelo grupo durante essas ações. Três acusados foram presos em julho.


Colaborou FÁBIO AMATO, da Agência Folha

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