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País teve 62 apagões graves só neste ano
Segundo o Inpe, 70% dos blecautes são causados por descargas elétricas; prejuízo anual com corte de energia é de R$ 600 milhões
Desligamentos causaram cortes superiores a 100 MW, que equivalem ao consumo médio de um município
com 400 mil habitantes
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
O ONS (Operador Nacional
do Sistema Elétrico), responsável por controlar a operação e a
transmissão de energia elétrica
do SIN (Sistema Interligado
Nacional), registrou neste ano
um aumento de 29% no número de apagões de grandes proporções em relação a 2008.
Especialistas ouvidos pela
Folha atribuem o aumento a
condições climáticas, queimadas, desmatamento e falhas em
equipamentos de transmissão,
causadas por erros de planejamento ou falta de manutenção.
Na última terça-feira, o blecaute mais abrangente na história do país deixou no escuro
70 milhões de pessoas em 18
Estados e no Distrito Federal.
Segundo levantamento feito
pela reportagem com base em
boletins do ONS, foram registrados neste ano 62 desligamentos significativos, ou seja,
com cortes superiores a 100
MW (que equivalem ao consumo médio de uma cidade com
400 mil habitantes). O valor é a
referência máxima adotada pelo órgão.
Também constam nos relatórios dois desligamentos envolvendo linhas de transmissão de Itaipu, que, segundo o
ONS, não geraram consequências aos consumidores.
O número desse tipo de ocorrência estava em queda nos últimos quatro anos, passando de
74 em 2005 para 48 em 2008.
Empresas atribuem a redução
nesse período a investimentos
em melhorias da transmissão
da energia. O aumento neste
ano, dizem, é motivado por
condições climáticas.
A maioria das ocorrências
está ligada às empresas Eletronorte, Furnas e Cteep (Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista). Os desligamentos levantados correspondem apenas às transmissoras de energia elétrica que participam do SIN, rede que liga
todos os Estados (exceto RR,
AM e AP). O ONS não faz registro de desligamentos originados nas distribuidoras, que levam a energia das subestações
até os consumidores.
O pesquisador José Maurício
de Barros Bezerra, da Universidade Federal de Pernambuco,
diz que não existe um sistema
"imune a falhas".
"Pode ser um pico, porque
neste ano houve uma condição
climática adversa. Podem ocorrer falhas na blindagem, porque seria inviável garantir a segurança total", afirma o pesquisador.
O desmatamento, segundo
ele, pode deixar as linhas de
transmissão mais susceptíveis
ao vento e às queimadas.
Causas
Com duração média de mais
de uma hora, os apagões registrados neste ano, na maioria
das vezes, ainda não tiveram as
causas esclarecidas.
Um levantamento do Grupo
de Eletricidade Atmosférica do
Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) afirma
que 70% dos desligamentos são
causados por descargas elétricas, com prejuízos anuais de R$
600 milhões.
Para o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o clima
adverso também foi o culpado
pelo apagão da semana passada. Essa versão foi praticamente descartada pelo Inpe, que
atribuiu o blecaute a uma falha
no sistema.
Ligado ao governo federal, o
órgão monitora a queda de
raios nas linhas de transmissão
desde 1999, quando o governo
do então presidente Fernando
Henrique Cardoso usou a versão climática para um apagão
que desligou 70% da energia do
país. O Inpe também contestou
essa explicação.
Apagões
Com tráfego de quase um
terço de toda a energia produzida no país, São Paulo foi o Estado com o maior número de desligamentos neste ano (14), seguido de Mato Grosso (11) e Pará (9) (veja quadro).
No início de outubro, três linhas de transmissão entre o
Sudeste e o Nordeste foram
desligadas por descargas elétricas e sobrecarga. O corte deixou parte de Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Piauí sem energia por 40 minutos.
Em 2 de setembro, 57% dos
consumidores de Goiás ficaram
sem energia elétrica por quatro
horas depois que uma palmeira
encostou na estrutura de transmissão e provocou o desligamento de duas subestações.
Em Goiânia, hospitais tiveram de acionar geradores. Escolas dispensaram alunos. De
acordo com a Celg (Centrais
Elétricas de Goiás), a palmeira
havia sido plantada por moradores que ocupam irregularmente áreas da empresa.
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