São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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BALADA MARGINAL

Líderes aparecem nas letras das músicas e na lista de agradecimentos das gravações, que chegam a vender 3.000 cópias

CDs e bailes funk exaltam PCC no litoral

ANDRÉ CARAMANTE
DO "AGORA"

São Paulo também tem baile funk. E, assim como acontece há vários anos no Rio de Janeiro, o público que superlota os bailes todos os finais de semana nas cidades do litoral do Estado tem uma nova mania: exaltar uma organização criminosa e seus líderes.
Enquanto cariocas dançam e cantam hinos das facções Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigo dos Amigos (ADA), os paulistas do litoral do Estado cultuam o PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa que age dentro e fora dos presídios de São Paulo.
Líderes do PCC também são aclamados nas músicas, principalmente Sandro Henrique Silva Santos, o Gulu -o bandido mais temido da Baixada Santista-, e Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
Os nomes dos líderes aparecem não só nas letras, mas também nas listas de agradecimentos dos "proibidões" paulistas, como são chamados os CDs dos funkeiros.
Prova disso é o CD "Taleban Parque dos Monstros", dos MCs -mestre-de-cerimônia- Renatinho e Alemão, dois dos funkeiros mais antigos de Santos, que cobram de R$ 150 a R$ 200 por um show em que, além de declamarem rimas de apoio ao PCC, também cantam funks românticos e outros mais descontraídos.
Eles também cantam em eventos beneficentes, em que agasalhos e alimentos são arrecadados e depois distribuídos para comunidades carentes do litoral.
Com tiragem de 3.000 cópias, o disco -lançado no começo deste ano e com custo de aproximadamente R$ 1.500- teve 1.300 unidades vendidas, algumas a R$ 10 e outras a R$ 13,90. O que ficou encalhado é distribuído aos jovens que vão aos bailes onde Renatinho e Alemão cantam.
Nos dias 6, 7 e 8 deste mês, a dupla lotou bailes em São Vicente, Praia Grande e no Morro do Fontana, no centro de Santos.
Nas prisões paulistas dominadas pelo PCC, também conhecido como "Partido do Crime" ou "1533" (porque o P é a 15ª letra do alfabeto, e o C, a 3ª), os funks da dupla santista são reverenciados como hinos da facção criminosa.
"Se liga seu verme, não vai vacilar/Chegando na muralha vamos lhe pegar/Organização original Primeiro Comando da Capital/ Para todos os vermes tente me entender/Renatinho e Alemão é um pê e dois cês", diz a letra de "Parque dos Monstros", um dos destaques do CD.
Ao mesmo tempo em que enaltece o PCC, "Taleban Parque dos Monstros", cuja capa é uma montagem da foto de Renatinho e Alemão usando capuz, óculos escuros e boné estilo militar, com o World Trade Center em chamas ao fundo, também tem letras que passam mensagens para que os jovens não entrem para o crime, caso de "Véu da Maldade".
Outros funks, como "Só os Fortes", mesclam evangelização e o Partido do Crime. O lema da facção, "Paz, Justiça e Liberdade", aparece na maioria das letras.
No dia 7 deste mês, Renatinho e Alemão promoveram o lançamento oficial de seu 5º CD, batizado de "Guerreiro Não Gela". A tarde de autógrafos aconteceu na loja de discos Ponto X, localizada dentro do Shopping Épocas, no centro de São Vicente.
Das 19 faixas de "Guerreiro Não Gela", 12 citam o PCC e seu lema. Desse número, sete foram gravadas em shows da dupla, nos morros do Chaparral e do Santa Rosa, em Santos.
Várias rádios piratas também tocam os funks enaltecendo a facção criminosa. Uma delas é a Rádio X FM (90,5 Mhz), que funciona em um pequeno prédio comercial na periferia de São Vicente. A rádio também recebe ligações de presos que, pelo celular, pedem as músicas do PCC.
O delegado Alberto Corazza, diretor do Departamento de Polícia Judiciário do Interior 6 (Deinter), de Santos, disse que a polícia de toda a Baixada Santista não tem conhecimento dos bailes funk, dos CDs e das rádios FMs que falam da maior facção criminosa de São Paulo.
"Não sabemos de nada sobre esse assunto", afirmou Corazza.



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