São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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SAÚDE

Escovação correta e uso de fio dental ajudam a evitar problemas; idosos sofrem com desinformação

Higiene preserva dentes até a velhice

FABIANE LEITE
BRUNO LIMA

DA REPORTAGEM LOCAL
Os cientistas até hoje não têm evidências de que o envelhecimento tenha relação com a perda dos dentes. Eles podem durar a vida inteira, desde que bem tratados com escovação e fio dental.
No dia-a-dia dos consultórios, no entanto, o que os dentistas ainda vêem são pacientes idosos tão certos da perda dos dentes que desistem dos cuidados de higiene.
"Eles ficaram alijados da assistência bucal adequada. Temos dificuldades para promover saúde nessa faixa etária e isso é a causa das perdas dentárias que ainda acontecem", afirma Dalva Maria Padilha, professora de odontogeriatria na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
"Há idosos de 80 anos que nunca receberam informações sobre saúde bucal", diz Fernando Luiz Brunetti Montenegro, membro do grupo de pesquisa em odontogeriatria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Na faixa de 65 a 74 anos, 64% da população paulista é desdentada, segundo resultado de estudo divulgado em novembro pela Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. Só 10% possuem mais de 20 dentes, quando o percentual deveria ser de 50%, de acordo com o padrões da Organização Mundial da Saúde.
Os idosos também apresentaram a maior proporção (12%) de alterações em tecidos moles, como a gengiva, e eram os que menos frequentavam o dentista -a maioria tinha feito a última consulta havia três anos ou mais.
O advogado Helio Santoro, 75, revela que só aprendeu a escovar os dentes da maneira correta há cerca de um ano. Ele corria risco de perder todos os dentes. E a culpa não é dele, de acordo com a dentista Denise Tibério Luz, que faz atendimento voluntário de idosos na Universidade Federal de São Paulo. "Ela não só restaurou os meus dentes como a mim mesmo. Fiquei com gengiva de nenê", conta o advogado.
Boca seca
A orientação sobre higienização ao idoso deve levar em conta suas limitações (veja quadro de dicas). A limpeza da língua é uma das principais preocupações dos dentistas, para a eliminação de resíduos que ficam nas papilas.
A "boca seca" (xerostomia) é apontada como um dos problemas mais frequente na faixa etária. A saliva tem uma função limpadora, além de proteger dentes, mucosas e tecidos moles da boca.
""Se o paciente não tem esta proteção, é maior a chance de problemas de gengiva e cáries", diz Montenegro. Em razão do recuo da gengiva, a maioria das cáries de idosos surge na região da raiz do dente.
No envelhecimento saudável, pode existir uma pequena diminuição do fluxo de saliva. Mas, segundo Montenegro, autor de um dos poucos livros nacionais sobre odontogeriatria, os remédios utilizados por idosos são uma das causas mais importantes da potencialização do problema. O médico pode indicar um remédio que não cause esse efeito.
Depois de analisar 440 grupos farmacológicos, Montenegro concluiu que 36,6% causavam a "boca seca". Outros 4,32% levavam à hipersalivação, e 2,5%, a alterações nas glândulas salivares. A saliva também auxilia na fixação de próteses e limpa as papilas gustativas, o que permite que o idoso saboreie melhor os alimentos e não tenha de exagerar em açúcar (prejudicial aos dentes e ao diabetes) e sal (ruim para a hipertensão) para sentir gostos. Há também doenças que causam o problema, o que deve ser investigado.
A odontogeriatria foi reconhecida como especialidade pelo Conselho Federal de Odontologia há cinco meses. Segundo Carlos Werner, presidente da Sociedade Brasileira de Odontogeriatria, as escolas que quiserem poderão adaptar seus currículos. "A odontogeriatria deverá ser o principal segmento. Um número cada vez maior de pessoas vai precisar de atendimento. Em 20 anos, a população de idosos no país saltará para 30 milhões."


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